Chamou bastante a atenção dos gestores do mercado financeiro
que participaram esta semana de uma live fechada, organizada pelo BTG, a fala
do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP).
Uma das principais lideranças do Centrão e também na lista
dos cotados para substituir Rodrigo Maia (DEM-RJ), Pereira falou do movimento
esperado, nos próximos meses, para a ação das duas alas (bastante distintas)
que existem hoje no governo Jair Bolsonaro. A ala militar e a da equipe do
ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na live, Marcos Pereira abriu o jogo e acabou revelando
palavras a ele ditas pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto, em reunião na
semana retrasada, na Câmara dos Deputados com outros presentes. “Daqui a alguns
meses o governo terá de enfrentar a intransigência do ministro Paulo Guedes”.
Nesse caso, a intransigência apontada pelo líder do Centrão
e ex-ministro da Indústria e Comércio Exterior continua sendo a disputa em
torno de uma maior participação do Estado para tirar a economia do buraco
depois da reabertura na fase pós-pandemia da covid-19.
Essa é uma divisão bem mais ampla do que aquela em torno do
confronto observado na divulgação do polêmico programa Pós-Brasil, lançado no
mês passado com o aval da ala militar e que expôs publicamente, pela primeira
vez, as entranhas da divisão entre esses dois grupos dentro do governo.
A disputa vem ganhando fôlego também com o debate em torno
da extensão dos programas de assistência à população mais vulnerável. O que
está fazendo a diferença cada vez mais é o apoio dos novos aliados do
presidente do Centrão, que já escolheram o seu lado: a ala militar.
Por isso, o mercado está tão interessado em ouvir aquelas
lideranças dos partidos do Centrão, que já estão abertamente juntas do
presidente, para ver onde e como a banda vai tocar daqui para frente.
No primeiro momento, Guedes teve o apoio do presidente
Bolsonaro. “Quem manda é o Guedes”, reforçou o presidente depois da tensão
provocada com o Pós-Brasil no mercado, que reagiu na época com alta dos juros,
dólar e queda da Bolsa.
O debate em torno do Pós-Brasil parece assunto velho, mas
não é. O Pós-Brasil e a avaliação de muitos dentro do governo de que o
Ministério da Economia é grande demais continuarão assombrando Guedes nos
próximos meses. A percepção que ficou para os participantes da live é que
Marcos Pereira passou a avaliação de militares, que continuam insatisfeitos com
a reação da equipe econômica para a retomada.
Está claro para as duas alas que o encontro marcado com a
intransigência, a que se referiu Marcos Pereira, será o momento em que os dados
oficiais mostrarem aquilo que todo mundo já espera: a explosão do desemprego.
A expectativa é de que o estrago da pandemia no mercado de
trabalho vai ficar mais definido em julho e agosto. Os dados apresentados, na
quinta-feira à noite, pela secretaria de Trabalho já apontam nessa direção. Os
pedidos de seguro-desemprego tiveram um salto na primeira quinzena de maio. Um
aumento de 76,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
Recente estimativa do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre) da Fundação Getúlio Vargas indicou que o mercado de trabalho tem
mostrado uma rápida piora de seus indicadores em consequência da pandemia. Para
o ano de 2020, a previsão é que a taxa de desemprego atinja uma média de 18,7%,
uma alta de quase 7 pontos porcentuais em relação ao ano anterior.
Uma resposta rápida ao aumento do desemprego será sem dúvida
fator de pressão do Palácio do Planalto que vai se intensificar. É quando as
duas forças vão mostrar a sua força. Emprego é hoje a maior cobrança do
presidente na equipe econômica. No vídeo da reunião ministerial do dia 22 de
abril, divulgado com autorização do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro fala
para Guedes que 10 milhões de “carteiras assinadas vão para o saco”.
Se antecipando à pressão, Guedes tenta resgatar a construção
de uma agenda para a retomada – ainda sem ganhar o entusiasmo dos
parlamentares.
O ministro falou nesta semana em um novo contrato de
trabalho emergencial simplificado para aumentar as contratações e acenou com a
extensão do auxílio emergencial de R$ 600. “É possível… eu não vou dizer que é
provável…, mas é possível que aconteça uma extensão…, mas será que a gente tem
o dinheiro para fazer a extensão a R$ 600? Acho que não…”, disse Guedes a
empresários do setor de serviços, o mais prejudicado pela crise.
O diagnóstico após a declaração do ministro é de que com esse aceno ele já começou a fazer uma guinada, mesmo que tímida, para diminuir a pressão. O problema, porém, só começará a ser resolvido quando o crédito para as empresas, principalmente para os pequenas, começar a fluir. Até agora, sem sinais de solução e com consequências negativas justamente para o emprego.
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