Quando o modo sobrevivência em um videogame é ativado, não é
permitido pausas ao jogador, que deve continuar jogando em uma sessão
ininterrupta tentando não morrer. Do contrário, “the game is over”!
Nessa modalidade, o jogo apresenta obstáculos cada vez mais
difíceis. Ao tempo em que coloca o jogador contra a parede, o modo
sobrevivência funciona como um bônus, dando a ele uma última oportunidade de
lambuja para que possa se redimir e aprender com erros antes cometidos e
oferecer melhores respostas aos problemas e desafios. Indica, portanto, que nem
tudo ainda está perdido, mas as condições de sobrevivência são precárias.
As recentes e radicais inflexões do presidente Bolsonaro
sugerem que foi ativado o modo sobrevivência em seu governo. Ora vejamos: até
muito pouco tempo atrás, Bolsonaro demonizava o presidencialismo de coalizão
argumentando que este era baseado em um jogo sujo de “toma lá, dá cá”.
Queria distância dos partidos políticos e ignorava as
lideranças do Congresso Nacional, rotulando-as de representantes da “velha
política” e preferindo constrangê-las por meio de conexões diretas com a
sociedade. Ao invés de negociar, assumiu uma postura de confronto polarizado
com todos aqueles que ofereceram resistência às suas iniciativas.
Entretanto, de uma hora para outra e contrariando tudo
aquilo que havia prometido em sua campanha e durante quase 500 dias de seu
mandato presidencial, se aproximou de alguns partidos políticos na tentativa
tardia de montagem de uma coalizão com o Centrão (bloco informal e heterogêneo
de partidos ideologicamente amorfos e não programáticos).
Governar por meio de coalizões majoritárias e estáveis é
condição sine qua non em um ambiente institucional multipartidário, especialmente
hiperfragmentado como o brasileiro.
Presidentes minoritários tendem a ser malsucedidos no
Legislativo e a enfrentar problemas crescentes de governabilidade. Contudo,
governar não é o único propósito de se montar coalizões multipartidárias e, em
certas ocasiões, nem é o principal objetivo.
Coalizões também são fundamentais para resguardar o
presidente de iniciativas que venham a fragilizá-lo. Ou seja, funcionam como um
escudo protetor e, quando bem gerenciadas, coalizões ajudam na própria
sobrevivência do governo.
Diante de fragilidades crescentes enfrentadas pelo
presidente Bolsonaro com a má gerência da pandemia, com os escândalos das
tentativas de interferência na Polícia Federal, possivelmente para encobertar
possíveis malfeitos de seus filhos, e com a saída de Sérgio Moro do governo,
ameaças de impeachment de Bolsonaro se tornaram cada vez mais críveis.
A coalizão com o Centrão, portanto, talvez tenha se tornado
o “1-up” do governo Bolsonaro. Ou seja, aquela última chance ou “vida extra”
que um jogador recebe quando o modo sobrevivência é ativado. Como se trata de
uma coalizão que gera apenas uma “maior minoria”, não deve ser o bastante para
proporcionar governabilidade e aprovação de agendas ambiciosas.
Entretanto, pode ser suficiente para proporcionar
sobrevivência ao governo, pois impeachments no Brasil necessitam de quórum
qualificado de 342 votos e, portanto, uma minoria de 172 deputados pode barrar
o processo na Câmara dos Deputados.
A vida extra dada a Bolsonaro pelo Centrão não significa a eliminação completa das dificuldades por ele enfrentadas, mas apenas uma promessa de que, por enquanto, o jogo não acabou.
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