segunda-feira, 18 de maio de 2020

ENFERMEIROS SOB RISCO

Editorial Folha de S.Paulo

Essenciais na linha de frente do combate à Covid-19 em todo o mundo, enfermeiros e enfermeiras enfrentam desafio extra no Brasil.
Os dados mais recentes do Conselho Federal de Enfermagem apontam que as mortes desses profissionais oficialmente confirmadas e suspeitas somam 108 no país, com 4.128 contaminados até 12 de maio, a maior parte em São Paulo.
Trata-se de números que não podem ser tidos como normais, mesmo em tempos de pandemia.
O Brasil responde por 38% dos óbitos globais dessa categoria, segundo o Conselho Internacional dos Enfermeiros. Nesse quesito supera, inclusive, os EUA, onde o total de casos fatais na população é maior que o nosso —mas não mais de 27 médicos e enfermeiros foram levados pela doença.
Os dados alarmantes refletem a constante insegurança ocupacional a que são submetidos esses profissionais no país. Enquanto sobe a curva de contaminação pelo novo coronavírus, permanece a precariedade das condições de trabalho no setor de saúde —resultante de restrições orçamentárias, sim, mas também de gestão deficiente.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, enfermeiros estão entre os servidores da saúde que continuam trabalhando sem receber salários em diversas unidades.
Com análises caso a caso, a categoria mereceria constituir exceção na correta proposta do governo federal de suspensão de reajustes de vencimentos do funcionalismo —uma contrapartida necessária ao socorro financeiro da União aos governos subnacionais.
Há mais problemas a enfrentar além da remuneração, contudo. Faltam ainda aos profissionais de enfermagem, em muitos locais, o mínimo essencial para o combate à pandemia, como o acesso a máscaras de proteção e outros equipamentos de proteção individual.
Outras medidas devem incluir escalas de trabalho que isolem, na medida do possível, as unidades de atendimento de casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 das demais, para evitar contaminação.
Colocar enfermeiros e enfermeiras sob maior ameaça tão somente contribuirá para o agravamento da crise sanitária já instalada. Protegê-los se faz essencial na pandemia, mas também depois dela.
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