No debate sobre a estratégias contra a pandemia de
coronavírus, o exemplo sueco tem sido esgrimido como argumento de diversos
pontos de vista, do técnico ao ético e do epidemiológico ao ideológico. Até
o presidente Jair Bolsonaro agarrou-se a ele.
No mais das vezes, reduz-se a situação no país escandinavo a
uma caricatura. Bolsonaro quis destacá-lo como paradigma da inutilidade do
isolamento social, numa comparação destrambelhada entre Argentina, que critica,
Brasil, que sabota, e Suécia, que admira.
O presidente, mais uma vez, deu prova de despreparo. Na
conta por milhão de habitantes que sugeriu, os vizinhos se saem melhor (178
casos/milhão) que os brasileiros (1.140), e os suecos ficam em último lugar
(2.937), até o fim de semana.
Tais cifras indicam que os suecos erram ao não adotar
medidas draconianas como as de outras nações europeias? É cedo para dizer. A
depender da duração da pandemia e do tempo para aprovar-se uma vacina
eficiente, aceitar mortalidade mais elevada de partida pode ou não se revelar
uma política adequada —é uma aposta.
Aposta fundada em lógica e princípios, a bem dizer, não em
crenças irracionais como a viabilidade de uma retomada geral de atividades ou
os efeitos da cloroquina.
Equivoca-se quem propagandeia que não houve política de
distanciamento social na Suécia: museus, estádios, universidades e colégios
fecharam, proibiram-se visitas a casas de repouso e reuniões de mais de 50
pessoas.
Sim, o comércio permaneceu aberto, mas com regras contra a
aproximação entre clientes. E o país europeu tem metade dos habitantes da
Grande São Paulo, baixa densidade demográfica, população de alto nível de
escolaridade e sistema de saúde eficiente, que passou longe do colapso mesmo
com a maior proporção de casos.
Brandir esse caso como exemplo a ser seguido no Brasil soa
como chiste macabro. Aqui nem sequer há informações confiáveis sobre quantidade
de infecções e óbitos por Covid-19 para nortear qualquer política de
distanciamento, menos ou mais rigorosa.
Na penumbra das evidências parcas e da desrazão rampante,
tateamos entre tentativas e erros. Basta ver as idas e vindas em São Paulo
quanto à mobilidade dos cidadãos, que não se consegue reduzir.
Certo é que não existe política única para garantir isolamento social na medida certa. Países, regiões e cidades enfrentam momentos diferenciados na marcha da epidemia, com recursos sanitários e condições sociais díspares.
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