A entrevista do empresário Paulo Marinho à colunista Mônica
Bergamo recolocou no centro da mesa a mesma pergunta: por que o presidente Jair
Bolsonaro demitiu seu chevalier servant, o ex-PM Fabrício Queiroz, no dia 15 de
outubro de 2018, uma semana depois do primeiro turno da eleição e duas semanas
antes do segundo?
No mesmo lance, dispensou também a filha de Queiroz. Se eles
fizeram algo de errado, nunca se soube. Ela ganhava R$ 10 mil mensais no
gabinete do então deputado Jair Bolsonaro e ele recebia R$ 9.000 servindo ao
seu filho Flávio, que acabara de ser eleito senador.
Desde os primeiros dias do governo de Bolsonaro conhecem-se
as movimentações financeiras de Queiroz.
Ele nunca explicou suas operações, limitando-se a dizer que
“fazia dinheiro” comprando e vendendo carros. Queiroz empregou no gabinete de
Flávio Bolsonaro a mãe do ex-PM e miliciano da ativa Adriano da Nóbrega,
foragido da Justiça por quase dois anos até que foi morto pela polícia baiana
em fevereiro passado.
Paulo Marinho é suplente do senador Bolsonaro e revelou que
os Queiroz foram demitidos dias depois do cinematográfico encontro de três
colaboradores de Flávio Bolsonaro com um delegado da Polícia Federal na segunda
semana de outubro de 2018.
Ele teria revelado que uma investigação apontava para
traficâncias de Queiroz. Dias depois, ele e sua filha foram demitidos. O alerta
teria mobilizado os Bolsonaros, Marinho, o futuro ministro Gustavo Bebianno e
três advogados. O ex-PM assustou-se, temendo ir para a cadeia, chegou a vomitar
no banheiro de um escritório e desapareceu.
Quando o Ministério Público investigava suas atividades,
Queiroz queixou-se da falta de ajuda, sentindo-se ameaçado. Achava que os
procuradores tinham um objeto “do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.
O que seria uma história de 2018 juntou-se a uma encrenca de
hoje, com a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro tentou
interferir no trabalho da PF do Rio de Janeiro, onde havia servido o delegado
Alexandre Ramagem. Ele cuidou da Operação Cadeia Velha, que investigava
malfeitorias na Assembleia Legislativa.
Tudo voltou ao ponto de partida: a Superintendência da
Polícia Federal do Rio de Janeiro. Bebianno morreu e Flávio Bolsonaro
desqualifica as revelações de seu suplente, mas Marinho colocou na roda pessoas
que discutiram a estratégia de defesa de Queiroz. Algumas delas teriam
presenciado a conversa com o delegado. Marinho não a presenciou.
Só as investigações do Ministério Público e da PF poderão
esclarecer essa questão, mas uma coisa é certa há mais de um ano: a demissão de
Queiroz e de sua filha tem cheiro de vazamento.
Paulo Marinho está no PSDB, alinhado com o governador João Doria e é
pré-candidato a prefeito do Rio.
Durante a campanha abrigou em sua casa do Jardim Botânico o quartel-general do candidato. Lá realizavam-se gravações e reuniões da equipe de Bolsonaro. Nessa relação estreita ele ganhou a suplência do senador Flávio Bolsonaro e perdeu uma cozinheira de várias décadas, levada pelo presidente para Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário