Piadas de Bolsonaro fazem o Tiozão do Pavê
se parecer com Jerry Seinfeld
O Brasil ultrapassou a marca de mil
mortes por dia pela Covid-19 e,
até o final do mês, deve superar o número de mortes causadas pela gripe
espanhola. O presidente Jair Bolsonaro resolveu celebrar o recorde com uma
piada sem graça.
O chefe de Estado do país poderia confortar famílias e
liderar a população, mas preferiu mandar seus opositores
tomarem Tubaína.
Bolsonaro não tem inteligência suficiente para perceber que
a anedota não faz sentido. Nem cloroquina rima direito com Tubaína. Tanto que
precisa rir em seguida, para avisar seus interlocutores que a intenção da
asneira era ser engraçada.
As piadas do Presidente Tubaína fazem o Tiozão do Pavê se
parecer com Jerry Seinfeld.
Mas ele não precisa refinar seu repertório porque se cerca de gente tosca.
Mais infame que aluno da quinta série que ri da aula de
reprodução humana, Bolsonaro anda rodeado de boçais com humor da mesma
qualidade. Na sua gangue, estão roqueiros decadentes que há 30 anos cantam
sobre estuprar galinhas e ejacular no transporte público.
Pior que cliente de restaurante que não consegue parar de
repetir “Pirarucu? Tiraro sim, senhor”, Bolsonaro tem obsessão pelo orifício
anal e faz associações rasas de furo jornalístico com o ato sexual para ofender
mulheres.
Mais panaca que genro fazendo piada de sogra, o presidente
faz graça comparando o crime de falsidade ideológica da mãe de Michele com
cirurgia plástica. Como se falsificar um documento fosse apenas uma intervenção
estética.
Em matéria de piada ruim, o presidente faz escola. Regina
Duarte tentou fazer graça celebrando pum de palhaço e ditadura militar.
Decepcionou e foi jogada
às traças da Cinemateca.
Já a Secretaria de Comunicação se mostrou fiel à Escola
Tubaína de Piada. No dia em que o país bateu o recorde de pessoas mortas por
Covid-19, publicou um tuíte celebrando a vida. O fato de o secretário ser um
dos primeiros a trazer o vírus para o país, assim como quem traz barras de
Toblerone, deixa a chacota ainda mais infeliz.
Mas, ao contrário de piadas ruins, que morrem em mesas de
Natal e churrascarias, as declarações do Presidente Tubaína vão parar onde ele
mais odeia, nos livros didáticos. Algumas linhas serão suficientes para
lembrá-lo como o pior presidente da história. E nem aluno da quinta série vai
rir.
Flávia Boggio
Roteirista e autora do núcleo de humor da Globo
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