sexta-feira, 22 de maio de 2020

RÁ, RÁ, RÁ, RÁ, RÁ !

Flávia Boggio, Folha de S.Paulo

Piadas de Bolsonaro fazem o Tiozão do Pavê se parecer com Jerry Seinfeld

O Brasil ultrapassou a marca de mil mortes por dia pela Covid-19 e, até o final do mês, deve superar o número de mortes causadas pela gripe espanhola. O presidente Jair Bolsonaro resolveu celebrar o recorde com uma piada sem graça.

O chefe de Estado do país poderia confortar famílias e liderar a população, mas preferiu mandar seus opositores tomarem Tubaína.

Bolsonaro não tem inteligência suficiente para perceber que a anedota não faz sentido. Nem cloroquina rima direito com Tubaína. Tanto que precisa rir em seguida, para avisar seus interlocutores que a intenção da asneira era ser engraçada.

As piadas do Presidente Tubaína fazem o Tiozão do Pavê se parecer com Jerry Seinfeld. Mas ele não precisa refinar seu repertório porque se cerca de gente tosca.

Mais infame que aluno da quinta série que ri da aula de reprodução humana, Bolsonaro anda rodeado de boçais com humor da mesma qualidade. Na sua gangue, estão roqueiros decadentes que há 30 anos cantam sobre estuprar galinhas e ejacular no transporte público.

Pior que cliente de restaurante que não consegue parar de repetir “Pirarucu? Tiraro sim, senhor”, Bolsonaro tem obsessão pelo orifício anal e faz associações rasas de furo jornalístico com o ato sexual para ofender mulheres.

Mais panaca que genro fazendo piada de sogra, o presidente faz graça comparando o crime de falsidade ideológica da mãe de Michele com cirurgia plástica. Como se falsificar um documento fosse apenas uma intervenção estética.

Em matéria de piada ruim, o presidente faz escola. Regina Duarte tentou fazer graça celebrando pum de palhaço e ditadura militar. Decepcionou e foi jogada às traças da Cinemateca.

Já a Secretaria de Comunicação se mostrou fiel à Escola Tubaína de Piada. No dia em que o país bateu o recorde de pessoas mortas por Covid-19, publicou um tuíte celebrando a vida. O fato de o secretário ser um dos primeiros a trazer o vírus para o país, assim como quem traz barras de Toblerone, deixa a chacota ainda mais infeliz.

Mas, ao contrário de piadas ruins, que morrem em mesas de Natal e churrascarias, as declarações do Presidente Tubaína vão parar onde ele mais odeia, nos livros didáticos. Algumas linhas serão suficientes para lembrá-lo como o pior presidente da história. E nem aluno da quinta série vai rir.

Flávia Boggio

Roteirista e autora do núcleo de humor da Globo

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