Não se pode dizer que Jair Bolsonaro não logrou êxito na
pauta que levou à dantesca reunião ministerial de 22 de abril. A partir dali
ele de fato:
- interveio
na Polícia Federal;
- “escancarou”
a política armamentista de seu governo em várias medidas;
- está
sendo informado, e informando seus aliados, sobre passos de investigações;
- degolou
o ministro da Justiça, como ameaçou fazer,
- E
fez os ministros se exporem, e muito.
Agora só falta “prender” governadores e prefeitos, como
pregou a diligente Damares Alves, mas não parece estar distante o dia em que
ele tentará essa jogada.
De todas as agendas que explicitou no encontro, a das armas
acima de tudo é uma das mais avançadas.
O presidente revogou, e anunciou no Twitter, portarias
editadas pelo Exército que previam a marcação e o rastreamento de armas e
munições.
Mais: o general Eugenio Pacelli, que havia assinado as
portarias estabelecendo a necessidade de rastrear armas e munições, depois
revogadas, foi exonerado da função e saiu dizendo que houve pressão por parte
da indústria armamentista.
Em seguida, Bolsonaro editou, com a assinatura de Sergio
Moro, a portaria da qual falava na fatídica reunião, aumentando o número de munições
que podem ser compradas por civis e militares.
Por que a sanha armamentista? O próprio presidente desenhou:
armada, a população poderá resistir a ordens consideradas abusivas de
governadores e prefeitos. Para isso, deu como exemplo as regras de distanciamento
social ditadas pela necessidade de combater a pandemia do novo coronavírus.
Ao investir claramente para criar grupos armados e dispostos
a defender o governo a qualquer preço, como fica patente nos posts nas redes
sociais e no incentivo a atos semanais de conformação golpista em Brasília, o
presidente dá a senha para a criação de milícias paramilitares no Brasil, nos
moldes da Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela, criada por Hugo Chávez em
2007, e que hoje conta com mais de 1 milhão de cadastrados. Nicolás Maduro, o
ditador que sucedeu Chávez, quer chegar a 2 milhões de homens armados, que,
juntamente com o Exército amplamente inflado pelo chavismo são as duas forças
que mantêm o regime de pé.
Escrevi a esse respeito na coluna intitulada “Bolsochavismo”,
ainda em fevereiro, quando o apoio dos bolsonaristas ao criminoso motim de
policiais militares em vários Estados já era o ovo da serpente do que se quer
criar.
Não é coincidência o fato de pulularem nas redes sociais
vídeos de policiais militares de todo o País se colocando à “disposição” para
defender Bolsonaro do STF, do Congresso e de governadores (aos quais as PMs
estão subordinadas).
Aliada à investida sem disfarces sobre a Polícia Federal e
seu uso como polícia política, inclusive perseguindo adversários políticos do
presidente, a urdidura de milícias fortemente armadas e dispostas e matar e
morrer por Bolsonaro é a gestação de um projeto autocrático de poder que, se
não for parado agora pelos demais Poderes, aos quais a Constituição delegou a
tarefa de exercerem o controle sobre os arreganhos do Executivo, será difícil
de deter no pós-pandemia.
Não é à toa o uso do verbo “aproveitar” a covid-19 para
“passar a boiada”, feito por Ricardo Salles na reunião dos círculos do Inferno.
Não é só no Meio Ambiente que o presidente aproveita a confusão que ele mesmo
cria diariamente no combate à peste para avançar com o arbítrio.
Isso está sendo feito sobre a liberdade de imprensa, sobre os direitos fundamentais e trabalhistas e também no sentido de um Estado policial e paramilitar que garanta a Bolsonaro não ser admoestado. E talvez nem fosse precisar, dada a tibieza da resposta das instituições.
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