O Brasil já contava 7.025 mortos pelo coronavírus quando
Jair Bolsonaro encontrou tempo para confraternizar com um carrasco da ditadura.
Na manhã de segunda-feira, o presidente abriu o gabinete para receber Sebastião
Rodrigues de Moura, o Major Curió. Ele já foi denunciado seis vezes pela
matança promovida pelo Exército na repressão à Guerrilha do Araguaia.
O encontro foi omitido da agenda oficial de Bolsonaro. Só
entrou nos registros à noite, depois de revelado pelo blog de Rubens Valente no
UOL. Mais tarde, um senador governista divulgou fotos da conversa. Numa delas,
o presidente aparece agachado ao lado do visitante, acusado de participar de
sequestros e assassinatos.
O próprio Curió forneceu provas do massacre. Em 2009, ele
abriu arquivos ao jornal O Estado de S. Paulo e confirmou a execução de 41
militantes presos, que não ofereciam perigo às tropas. Muitos se entregaram
maltrapilhos e famintos, após meses de fuga na floresta.
Em entrevista a Leonencio Nossa, reproduzida no livro “Mata!
O major Curió e as guerrilhas do Araguaia”, o militar reformado comparou o
extermínio de prisioneiros à limpeza de uma lavoura. “Quando se capina, não se
corta a erva daninha só pelo caule. É preciso arrancá-la pela raiz para que não
brote novamente”, disse.
Bolsonaro sempre exaltou a matança na selva. Na Câmara, ele
debochava das famílias dos desaparecidos com o slogan “Quem procura osso é
cachorro”. No Planalto, extinguiu o grupo de trabalho que tentava identificar
restos mortais dos combatentes.
A recepção a Curió foi uma nova isca para atiçar a
militância de extrema direita que apoia o projeto autoritário do capitão. O
episódio se soma a outras indignidades bolsonaristas, como as agressões a
jornalistas e as ameaças ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.
Em mais uma falsificação histórica, a Secretaria de Comunicação da Presidência chamou o major de “herói do Brasil”. A Convenção de Genebra trata a execução de prisioneiros como crime de guerra, e nem as leis da ditadura autorizavam o que se fez no Araguaia. O Ministério Público Federal pede a condenação de Curió desde 2012, mas ele continua solto graças a uma interpretação generosa da Lei da Anistia.
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