Semanalmente apoiadores do presidente Jair Bolsonaro
contrariam as recomendações médicas e de autoridades sanitárias e, seguindo o
exemplo do “mito”, se aglomeram em manifestações chapa-branca. Com faixas,
cartazes e atitudes antidemocráticas, espalham ódio, intolerância e desprezo
pela democracia. O resultado, claro, é o aumento da rejeição ao governo perante
a opinião pública.
Os apoiadores do presidente afrontam a Constituição Federal
ao pregarem o fechamento do Congresso e do Supremo, intervenção militar e
agredirem sistematicamente a imprensa profissional. A virulência dos fanáticos
é tanta que, pela primeira vez na história, veículos de comunicação retiraram
seus profissionais da cobertura diária no Alvorada por motivos de segurança.
A narrativa dos bolsonaristas é de que o Congresso, o
Supremo e a imprensa se unem em complô para impedir o presidente de governar.
Pura balela. Depois de um ano e meio, ninguém sabe exatamente qual o programa
do governo Bolsonaro. Suas prioridades até agora são armar a população,
proteger os filhos das encrencas que se metem e distribuir cloroquina.
A falta de propostas para o país ficou patente na reunião
ministerial do dia 22 de abril, divulgada na última sexta-feira por decisão do
ministro Celso de Mello. Sem rito e sem pauta definida, faltaram projetos e
decisões, sobraram queixas, ameaças e palavrões.
Ao assistir o vídeo a sensação que se tem é de que o país
está à deriva e não há nenhuma perspectiva de mudança a curto e médio prazo.
Além de não existir uma plataforma de governo com projetos
para o futuro, dia a dia Bolsonaro se distancia cada vez mais das
promessas de campanha. Desde que assumiu, o presidente vem fazendo justamente o
contrário do que se propôs que já não era grande coisa. Vejamos alguns exemplos;
1 – Reeleição – Antes do segundo turno Bolsonaro
afirmou que pretendia “fazer uma excelente reforma política, acabando com o
instituto da reeleição, que começa comigo caso seja eleito”. Bolsonaro se
elegeu, mas a tão sonhada reforma política nunca saiu, sequer foi cogitada.
Quanto a não se candidatar a reeleição, desde que assumiu o presidente não
pensa em outra coisa. Mantém uma postura permanente de candidato e até já
declarou publicamente que só deixará o Palácio do Planalto em 31 de dezembro de
2026.
2 – Combate à corrupção – Durante toda
campanha, o então deputado Jair Bolsonaro se gabava de não figurar entre os
envolvidos nos escândalos de corrupção dos governos petista. Eleito, convidou o
então juiz Sérgio Moro – símbolo da Lava Jato – para assumir a pasta da Justiça
e Segurança Pública. Em entrevista antes da posse, prometeu carta branca ao seu
futuro ministro. Uma carta branca nunca existiu de fato.
Os leitores d’Os Divergentes não se surpreenderam com a
saída de Moro do governo. Em vários artigos o colunista Andrei Meireles relatou
a permanente queda de braço entre o presidente e seu ministro da Justiça.
Bolsonaro demonstrou que o combate à corrupção nunca foi uma
bandeira do seu governo. E o rompimento com aquilo que ele mesmo chamava de
“velha política” também é outra promessa não cumprida. Basta ver seus atuais
aliados, figuras carimbadas da política brasileira como Roberto Jefferson,
Valdemar da Costa Neto, Ciro Nogueira, Artur Lira, Gilberto Kassab e outros que
dispensam comentários.
Economia – Na economia a agenda liberal e de
austeridade fiscal de Paulo Guedes, que conquistou o apoio do establishment, já
foi para o espaço. E não por culpa apenas da pandemia do coronavírus, ela
apenas agravou o desinteresse do governo em levá-la adiante.
As reformas estruturais, tão necessárias ao equilíbrio das
contas, nunca foram prioridade para Bolsonaro. A emenda da previdência foi
aprovada mais pela vontade do próprio Congresso do que por interesse do
governo. O presidente se manteve distante da articulação política. Nas poucas
vezes que apareceu acabou atrapalhando mais que ajudando, como quando defendeu
e acabou enviando um projeto especifico para tratar da previdência dos
militares.
As reformas tributária e administrativa também nunca foram
adiante. Bolsonaro, por princípio, é contrário ao fim dos privilégios dos
servidores públicos, por isso nunca enviou sequer uma minuta de reforma
administrativa ao Legislativo.
Para o presidente as pautas que realmente interessam são a liberação das armas e a agenda conservadora. Assuntos que o Congresso não está disposto a discutir. Nesse impasse, o Brasil segue sem rumo em meio a um oceano de problemas.
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