quarta-feira, 27 de maio de 2020

UM PAÍS À DERIVA

Edna Lima, OS DIVERGENTES

Semanalmente apoiadores do presidente Jair Bolsonaro contrariam as recomendações médicas e de autoridades sanitárias e, seguindo o exemplo do “mito”, se aglomeram em manifestações chapa-branca. Com faixas, cartazes e atitudes antidemocráticas, espalham ódio, intolerância e desprezo pela democracia. O resultado, claro, é o aumento da rejeição ao governo perante a opinião pública.

Os apoiadores do presidente afrontam a Constituição Federal ao pregarem o fechamento do Congresso e do Supremo, intervenção militar e agredirem sistematicamente a imprensa profissional. A virulência dos fanáticos é tanta que, pela primeira vez na história, veículos de comunicação retiraram seus profissionais da cobertura diária no Alvorada por motivos de segurança.

A narrativa dos bolsonaristas é de que o Congresso, o Supremo e a imprensa se unem em complô para impedir o presidente de governar. Pura balela. Depois de um ano e meio, ninguém sabe exatamente qual o programa do governo Bolsonaro. Suas prioridades até agora são armar a população, proteger os filhos das encrencas que se metem e distribuir cloroquina.

A falta de propostas para o país ficou patente na reunião ministerial do dia 22 de abril, divulgada na última sexta-feira por decisão do ministro Celso de Mello. Sem rito e sem pauta definida, faltaram projetos e decisões, sobraram queixas, ameaças e palavrões.

Ao assistir o vídeo a sensação que se tem é de que o país está à deriva e não há nenhuma perspectiva de mudança a curto e médio prazo.

Além de não existir uma plataforma de governo com projetos para o futuro,  dia a dia Bolsonaro se distancia cada vez mais das promessas de campanha. Desde que assumiu, o presidente vem fazendo justamente o contrário do que se propôs que já não era grande coisa. Vejamos alguns exemplos;

1 – Reeleição – Antes do segundo turno Bolsonaro afirmou que pretendia “fazer uma excelente reforma política, acabando com o instituto da reeleição, que começa comigo caso seja eleito”. Bolsonaro se elegeu, mas a tão sonhada reforma política nunca saiu, sequer foi cogitada. Quanto a não se candidatar a reeleição, desde que assumiu o presidente não pensa em outra coisa. Mantém uma postura permanente de candidato e até já declarou publicamente que só deixará o Palácio do Planalto em 31 de dezembro de 2026.

2 – Combate à corrupção –  Durante toda campanha, o então deputado Jair Bolsonaro se gabava de não figurar entre os envolvidos nos escândalos de corrupção dos governos petista. Eleito, convidou o então juiz Sérgio Moro – símbolo da Lava Jato – para assumir a pasta da Justiça e Segurança Pública. Em entrevista antes da posse, prometeu carta branca ao seu futuro ministro. Uma carta branca nunca existiu de fato.

Os leitores d’Os Divergentes não se surpreenderam com a saída de Moro do governo. Em vários artigos o colunista Andrei Meireles relatou a permanente queda de braço entre o presidente e seu ministro da Justiça.

Bolsonaro demonstrou que o combate à corrupção nunca foi uma bandeira do seu governo. E o rompimento com aquilo que ele mesmo chamava de “velha política” também é outra promessa não cumprida. Basta ver seus atuais aliados, figuras carimbadas da política brasileira como Roberto Jefferson, Valdemar da Costa Neto, Ciro Nogueira, Artur Lira, Gilberto Kassab e outros que dispensam comentários.

Economia – Na economia a agenda liberal e de austeridade fiscal de Paulo Guedes, que conquistou o apoio do establishment, já foi para o espaço. E não por culpa apenas da pandemia do coronavírus, ela apenas agravou o desinteresse do governo em levá-la adiante.

As reformas estruturais, tão necessárias ao equilíbrio das contas, nunca foram prioridade para Bolsonaro. A emenda da previdência foi aprovada mais pela vontade do próprio Congresso do que por interesse do governo. O presidente se manteve distante da articulação política. Nas poucas vezes que apareceu acabou atrapalhando mais que ajudando, como quando defendeu e acabou enviando um projeto especifico para tratar da previdência dos militares.

As reformas tributária e administrativa também nunca foram adiante. Bolsonaro, por princípio, é contrário ao fim dos privilégios dos servidores públicos, por isso nunca enviou sequer uma minuta de reforma administrativa ao Legislativo.

Para o presidente as pautas que realmente interessam são a liberação das armas e a agenda conservadora. Assuntos que o Congresso não está disposto a discutir. Nesse impasse, o Brasil segue sem rumo em meio a um oceano de problemas.

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