O MDB e o DEM anunciaram, ontem, que deixarão o Centrão,
bloco de 221 parlamentares formado pelos seguintes partidos: PTB, PP,
Solidariedade, PRB, PSD, MDB, PR, Podemos, Pros e Avante. Com a saída das duas
legendas, a bancada comandada pelo líder do Progressistas, Arthur Lira (AL),
nome de preferência do presidente Jair Bolsonaro para substituir Rodrigo Maia
(DEM-RJ) na Presidência da Câmara, passará a contar com 158 deputados. Ocorre
que o PSD, com 35 deputados, e o PTB, com 11, também estão se preparando para
desembarcar do Centrão. A candidatura de Lira ao comando da Casa virou suco.
Um dos artífices da aproximação do bloco com o Palácio do
Planalto, Lira se lançou à sucessão de Maia antes da hora e acabou no sereno.
Seu principal concorrente era o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP- PB), líder da
maioria e relator da reforma tributária, que agora está cotado para ser o líder
do governo na Câmara, no lugar do Major Vitor Hugo (PSL-GO). A operação é
comandada pelo ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Ramos, como uma
forma de acomodar a situação dentro do Progressista, mas a necessidade da troca
de líder ainda não convenceu Bolsonaro.
A candidatura de Lira, porém, se tornou tóxica, por causa da
Operação Lava-Jato, na qual é acusado de ter recebido R$ 1,6 milhão em propina
da empreiteira Queiroz Galvão. De acordo com a denúncia, teria recebido o
dinheiro em troca do apoio do PP à manutenção de Paulo Roberto Costa na
diretoria da Petrobras. Costa foi preso em março de 2014, quando a Lava-Jato
foi deflagrada. Segundo a defesa do parlamentar, o delator fez a denúncia
porque Lira teria afastado Costa da legenda. Mas acontece que a ex-mulher de
Lira, Jullyete Lins, no fim do ano passado, ao cobrar na Justiça R$ 600 mil de
pensões em atraso, acusou o parlamentar de ocultar patrimônio no valor de R$ 40
milhões, construído por meio de propina. Lira nega.
O desembarque do PSD, de Gilberto Kassab, e do PTB, de
Roberto Jefferson, do Centrão sinaliza um realinhamento de forças na Câmara.
Esses partidos, que agora ocupam espaços na Esplanada dos Ministérios, se
movimentam por conta própria. Aparentemente, Kassab e Jefferson não têm
interesse que o novo presidente da Câmara seja um “pau mandado” do presidente
Jair Bolsonaro. Isso reduziria o poder de barganha que ambos têm hoje, tanto na
estrutura da Câmara como nas negociações com o Palácio do Planalto. Kassab e
Jefferson, cada qual com o seu estilo, são raposas velhas da política. Operam
nos bastidores defendendo seus próprios interesses na Câmara, para depois
negociar com o governo numa posição de força.
Trocando em miúdos, o Palácio do Planalto deve esquecer o
jogo de damas, precisa jogar xadrez na Câmara. Isso ficou claro na votação do
Fundeb, na semana passada, que Artur Lira tentou adiar, a pedido do governo,
mas acabou atropelado por Maia. Os líderes do MDB, deputado Baleia Rossi (SP),
e do DEM, deputado Efraim Filho (PB), também são potenciais candidatos ao
comando da Câmara, mas ainda é muito cedo para se lançarem à disputa. O grande
beneficiado pela desconstrução do Centrão, por enquanto, é o presidente da
Câmara. Maia estava sendo tratado como “pato manco” por Bolsonaro, o que é um
erro crasso.
Aviões de carreira
Há mais coisas entre o céu e o cerrado do que os aviões de carreira, diria o
Barão de Itararé, a propósito da saída de integrantes da equipe do ministro da
Economia, Paulo Guedes. Depois do secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida,
deixaram a equipe, nos últimos dias, o presidente do Banco do Brasil, Rubens
Novaes, e o secretário especial de Fazenda, Caio Mengale, que anunciou sua
decisão ontem. Todos alegaram motivos pessoais, mas o ex-presidente do BB
deixou no ar uma interrogação, ao revelar incômodo com o “compadrio”. Pode ser
uma referência às pressões para manter a publicidade do banco nos sites e
blocos que estão sendo investigados pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), por causa das fake news.
No mercado financeiro, comenta-se que estaria havendo divergências na equipe econômica em relação ao programa Mais Brasil, que o governo prepara para substituir o programa Bolsa Família. O governo caminha para aumentar impostos e fazer mais transferências de recursos para a população de baixa renda, contrariando tudo o que Guedes pretendia inicialmente. Ou seja, a pandemia e a recessão puseram em xeque o projeto ultraliberal de Guedes e sua equipe.
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