O presidente do PSB, Carlos Siqueira, nega o debate sobre a
fusão da legenda com o PCdoB. Igualmente, a presidente do PCdoB e
vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, refuta qualquer discussão sobre
fusão ou incorporação de seu partido ao PSB.
Uma eventual fusão entre PSB e PCdoB, ventilada em entrevistas pelo governador
do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), gerou constrangimento nas cúpulas partidárias
e azedou o clima em setores da esquerda, aprofundando um quadro de fragmentação
que fortalece a direita bolsonarista.
“Ninguém está participando de conversa sobre fusão com
partido nenhum no PSB, nós estamos tratando de eleições municipais”, afirmou um
Carlos Siqueira francamente contrariado à coluna. “Se essa discussão existisse,
seria um debate interno; fazê-la pelos jornais é o começo do fracasso”.
Siqueira aborreceu-se ontem de manhã com a notícia trazida
pelo jornal “O Globo” de que, nos bastidores, Dino estaria se referindo à
possível nova legenda como o “MDB da esquerda”. “Ora, o MDB é uma sigla com uma
bela história, mas se deteriorou ao longo do tempo e nem é bom tê-la como
referência para nada”, diz o pessebista.
Logo cedo, o celular do presidente do PSB começou a tocar
com ligações de dirigentes regionais e militantes atordoados com a notícia da
possível fusão, avisando que se fosse verdade, deixariam a legenda. “Somos
muito diferentes, nós somos esquerda democrática, eles [PCdoB] são esquerda
tradicional”, explicou.
Protagonista do alarido, Dino colocou panos quentes. Ele
confirma que não discutiu o assunto com o PSB, e concorda com Siqueira que o
momento é inoportuno para esse diálogo. “Creio que o debate sobre federações
partidárias ou algo similar pertence ao ano de 2021”, reconheceu Dino à coluna
Mas o governador enfatiza que o debate sobre o novo desenho do sistema
partidário é necessário e deverá alcançar todo o espectro político, e não
apenas a esquerda.
Neste ponto, Siqueira e Dino convergem: todo o sistema político precisa de uma
reformulação. Para o dirigente pessebista, o resultado da eleição presidencial
em 2018 é a maior evidência de que o sistema político faliu.
“A vitória de [Jair] Bolsonaro não representou a derrota do
PT, mas, sim, de todo o sistema porque partidos grandes, com governadores,
senadores e deputados foram derrotados por um deputado do baixo clero, com um
partido de aluguel e sem tempo de televisão”, argumentou Siqueira.
Assim como o pior cego é aquele que não quer enxergar,
Siqueira afirma que somente a classe política tradicional resiste a admitir a
falência do modelo atual. “Partidos que estavam com os governos de Lula e Dilma
abandonaram Dilma a dois dias da votação do impeachment, depois migraram para a
base de Temer e agora estão com Bolsonaro. Que partidos são esses?”, pergunta
Siqueira, em provocação dirigida aos partidos do Centrão, que agora formam a
base bolsonarista.
Mas o dirigente pessebista não se sensibiliza com o
argumento de que a fragmentação da esquerda fortalece Bolsonaro, sobretudo se
ele disputar a reeleição. Ele observa que a maioria da esquerda apoiou Fernando
Haddad em 2018, e isso não foi suficiente para reverter o resultado eleitoral.
(Na verdade, a esquerda se dividiu, e ao ficar em terceiro lugar, o pedetista
Ciro Gomes recusou-se a declarar apoio a Haddad e voou para Paris).
Além disso, Siqueira afirma que tentar prever a conjuntura
de 2022 em 2020 é um erro primário, porque “dois anos são uma eternidade em
política”.
Enquanto a esquerda tromba, Bolsonaro avança duas casas no
tabuleiro eleitoral. Ontem a rodada de julho da pesquisa XP/Ipespe trouxe
vários indicadores de melhora na percepção da população sobre o governo
Bolsonaro, apesar dos revezes das últimas semanas: a prisão de Fabrício
Queiroz, as denúncias do ex-ministro Sergio Moro de tentativa de interferência
na Polícia Federal, a condução negligente da pandemia, com a média de 1.055
mortos por dia.
O principal indicador confirma a tendência de alta, indo a
30% de ótimo e bom – dois pontos a mais que em junho. A reprovação voltou a
oscilar negativamente, indo a 45%, três pontos a menos que na sondagem anterior.
Aqui, Siqueira e Dino voltam a convergir: ambos atribuem os
30% de avaliação positiva de Bolsonaro ao pagamento do auxílio emergencial de
R$ 600 à população de baixa renda. “São os eleitores de Lula que migraram para
Bolsonaro”, resume Siqueira.
Mas Dino acredita que quando cessar o pagamento do auxílio e
o desemprego chegar com força aos lares mais pobres, a avaliação positiva vai
cair. Mesmo com o lançamento do programa que substituirá o Bolsa Família, cujo
benefício será de cerca de R$ 250, muito aquém dos atuais R$ 600.
“Fake news”
Autor da proposta no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acredita que
o eixo principal do projeto de lei de combate às “fake news” será preservado na
Câmara. Os deputados deverão acrescentar questões penais e de processo penal,
com reflexos nas leis de Organizações Criminosas e de Lavagem de Dinheiro, e
talvez mudem o trecho sobre rastreamento de mensageiros privados, onde há
alguma resistência.
Pelo texto aprovado pelos senadores, há a obrigação de que o
WhatsApp rastreie dados sobre mensagens encaminhadas para mais de mil pessoas
em 15 dias, a chamada “rastreabilidade”. “O eixo principal é o combate a contas
falsas e redes estruturadas de desinformação e a responsabilidade das
plataformas”, diz o senador.
Se o presidente Jair Bolsonaro vetar o projeto, o senador
acredita que até o Centrão, que se alinhou ao governo, ajudará a derrubar o ato
presidencial. “Todo mundo entendeu que a ausência de uma legislação [que coíba
“fake news” gera desequilíbrio e isso prejudica qualquer um, não é ferramenta
ideológica. Se você tiver dinheiro, fará uma rede de ataque e a depender do
momento e da proporção, vai gerar um impacto irreversível na candidatura do
adversário”.
Se a legislação não entrar em vigor até o início da campanha, o senador lembra que o TSE regulamentará a matéria, criando travas e limites.
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