Antes de provocar alvoroço na caserna, Gilmar Mendes já
havia usado o termo “genocídio” três vezes para se referir ao desempenho do
governo na crise do coronavírus. Em junho, depois que Jair Bolsonaro ordenou
uma maquiagem nas estatísticas, o ministro disse que a manobra não eliminaria a
responsabilidade do presidente pelo morticínio.
Naqueles episódios, não se ouviu ranger de dentes ou toque
de corneta nos quartéis. Os militares só reagiram agora, quando Gilmar disse
que o Exército estava associado ao desastre na saúde. A ideia era proteger as
Forças Armadas das críticas, mas os comandantes acabaram passando um recibo
definitivo sobre seus vínculos com o presidente.
A resposta dos militares e a decisão de acionar a
Procuradoria-Geral da República contra o ministro do Supremo amarram ainda mais
esse grupo aos resultados e fracassos do governo. Embora a saída do general que
comanda o Ministério da Saúde tenha entrado em pauta, é tarde para dizer que os
fardados não fazem parte dessa engrenagem.
Ao reforçar a integração entre os militares e o
bolsonarismo, as críticas de Gilmar acabaram despertando a adormecida ala
ideológica do governo. Abalado pelas investigações que cercam o Palácio do
Planalto, o grupo que fornece ao presidente sua doutrina ultraconservadora voltou
a se movimentar para recuperar influência no centro do poder.
Partiu de um dos formuladores desse núcleo, nesta terça
(14), um diagnóstico sobre a sustentação do governo. Filipe Martins, assessor
da Presidência, reconheceu nas redes o enfraquecimento dos olavistas, descreveu
as críticas aos militares como um projeto do establishment político e afirmou
ser necessário “resgatar e proteger” o núcleo ideológico.
Trata-se de um apelo para que Bolsonaro retome sua guerra institucional. É, ainda, uma reação aos generais que afiançaram uma aproximação com os demais Poderes e convenceram o presidente a camuflar seu radicalismo com um discurso aparentemente mais moderado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário