Jair Bolsonaro fez caravana pelo Nordeste. Fez um
minicomício em São Raimundo Nonato, sul do Piauí, cidade que está no quinto
daquelas de menor desenvolvimento humano do país, segundo o ranking da Firjan,
mas que muito progrediu nos anos lulistas. Inaugurou uma obra de abastecimento
de água em Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, ainda mais pobrinha que sua
vizinha piauiense.
De dezembro de 2019 a junho de 2020, o Nordeste foi a única
região em que Bolsonaro ganhou algum prestígio, segundo o Datafolha. Quando se
trata de renda, apenas entre as famílias que ganham menos de dois salários
mínimos o presidente ganhou pontos.
Os economistas de Bolsonaro querem tributar o 1% mais rico
do país, embora também desejem uma CPMF, que não pega só a elite, pega 1%, pega
geral, imposto especialmente detestado por banqueiros.
Paulo Guedes propôs um tributo que deve aumentar o custo de
serviços consumidos pelos mais ricos (escola e saúde privadas, advogados etc.),
a Contribuição Social sobre Bens e Serviços. Seus economistas dizem pelos
jornais que querem diminuir as deduções de saúde e educação no Imposto de Renda
(em geral, coisa de ricos).
Querem tributar lucros e dividendos, o que vai mexer com
profissionais que são empresas de si mesmo no Simples, entre outros, além de
pegar parte do dinheiro que rendem aquelas ações da Bolsa. Querem uma alíquota
de IR maior do que 27,5% para “pegar” quem ganha mais de R$ 36 mil (que está no
1%), como disse a esta Folha Guilherme Afif Domingos, assessor de Guedes, como
se fora um líder do Occupy Faria Lima.
Guedes quer criar um Bolsa Família ampliado. É verdade que o
dinheiro extra do seu Renda Brasil é por ora apenas um catadão de recursos de
outros programas sociais. Mas já poderia discutir o assunto com sociólogos de
esquerda.
Como todos os governos da esquerda que domina o Brasil faz
30 anos (de acordo com Guedes), Bolsonaro se alia ao PP e suas variantes de
ontem, hoje e sempre. Pelo menos desde abril, corre o boato de que alguns de
seus generais querem mais obras públicas, intervenção do Estado. O presidente
aceitou a contragosto a reforma da Previdência, coitado.
O presidente agora ataca não apenas Sergio Moro, ex-cruzado
e trânsfuga do bolsonarismo, mas também a Lava Jato e o lava-jatismo, tal como
petistas. Por isso ganhou um “Fora, Bolsonaro” do Vem pra Rua, parte
marchadeira da frente que depôs Dilma Rousseff.
Com essa ficha, um Jair qualquer passaria por “comunista” ou
“esquerda lixo” nas redes insociáveis da extrema direita. Não é bem o caso, né,
mas os planos de gastos e impostos do governo têm interesse político.
A CPMF não vai passar, repete Rodrigo Maia, mas Bolsonaro (e
o próprio Maia) vão levar adiante a tributação dos mais ricos? A fim de abrir
espaço para um programa de renda básica mais gordo e não mexer no teto, vão
confiscar parte dos salários dos servidores federais (além de juízes e
procuradores. Militares inclusive?)?
O protesto do 1% (ou dos 10%) vai derrubar parte relevante
da reforma tributária? Ou vai ter “reforma na marra” e o Congresso vai pagar o
preço de aumentar os impostos da “classe média” (como quase todos os ricos se
chamam)?
Como não se trata de um governo normal ou racional, é
difícil discutir direito tais assuntos. Mas as realidades da penúria e da
sobrevivência político-eleitoral vão fazer Bolsonaro trombar com essas
questões. Como dizia a propaganda do Exército, chega um momento em que o jovem
tem de escolher a sua carreira.
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