Um estudo promovido por 55 hospitais brasileiros testou o
desempenho da cloroquina no tratamento da Covid-19. Os médicos acompanharam 667
pacientes em estágio leve ou moderado da doença. A conclusão foi a mesma de
pesquisas já feitas no exterior: a droga é ineficaz no combate ao coronavírus.
E ainda pode provocar efeitos adversos, como arritmia cardíaca.
O relatório da Coalizão Covid-19 Brasil foi divulgado nesta
quinta, com ampla repercussão na imprensa. Poucas horas depois, Jair Bolsonaro
fez uma transmissão ao vivo no Palácio da Alvorada. Diante de milhares de
seguidores, o presidente voltou a exibir uma caixinha do remédio. “Enquanto não
tem um medicamento claro para atacar o problema, é válido esse aqui”, afirmou.
O capitão não foi o primeiro líder populista a fazer
propaganda da cloroquina. Donald Trump lançou a moda no início da pandemia. O
americano chegou a anunciar que estava tomando a droga, mesmo sem ter se
infectado. Aos poucos, foi deixando a encenação para seus imitadores.
Numa prova definitiva de que desistiu da farsa, o
republicano anunciou a doação de dois milhões de doses ao Brasil. Bolsonaro
agradeceu, sensibilizado com a generosidade. E mandou distribuir o carregamento
para os estados, que não sabem o que fazer com a substância reprovada pelos
cientistas.
O Capitão Corona transformou a cloroquina numa espécie de
Santo Graal para seus seguidores fanáticos. No último domingo, ele caminhou até
a portaria do Alvorada e ergueu uma caixa do remédio como se fosse um troféu. O
gesto provocou palpitações na pequena plateia, que se aglomerava à espera de um
perdigoto do grande líder.
No ar seco de Brasília, o charlatanismo se tornou contagioso. Em vídeo divulgado na quarta-feira, o comandante do Exército, Edson Pujol, exaltou a produção da substância em laboratórios militares. “Com orgulho, informo que essa pronta resposta já recuperou milhares de integrantes da nossa família verde-oliva”, discursou. E o general já foi visto como uma reserva de racionalidade nos quartéis.
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