A palavra genocídio, substantivo masculino, significa
extermínio de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso (Houaiss). O
maior de todos, no século passado, foi o Holocausto, o assassinato em massa de
judeus pelos nazistas, que defendiam a superioridade racial dos arianos.
Genocida era, por exemplo, o médico alemão Josef Menguele, que morreu em
Bertioga (SP), em 1979, com o nome falso de Wolfgang Gerhard. Ele realizava
experiências genéticas no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na
Polônia, durante a II Guerra Mundial. Estima-se que morreram no Holocausto 6
milhões de judeus, de um total de 21 milhões de prisioneiros assassinados pelos
nazistas na II Guerra Mundial.
O genocídio foi tipificado como crime contra a humanidade em
1951, quando foi criada a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de
Genocídio. A partir daí, assassinatos em massa como consequência de diferenças
étnicas, nacionais, raciais e religiosas passaram a ser qualificados como tal,
especialmente quando se trata de limpeza étnica. Houve genocídio na colonização
das Américas e da África; no século passado, na Turquia (armênios), Camboja
(oposição ao regime comunista), Timor Leste (nacionalistas), Kosovo
(albaneses), Ruanda (tutsis), Bósnia (muçulmanos) e Iraque (curdos). O Brasil
reconhece o genocídio como crime desde 1956.
Por isso mesmo, não foi gratuita a reação dos militares às
declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que criticou
duramente o general de divisão Eduardo Pazzuelo, um graduado oficial da ativa,
por sua atuação à frente do Ministério da Saúde: “Não podemos mais tolerar essa
situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse
vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo
federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a
intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das
Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se
associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse.
Povos indígenas
O Ministério da Defesa anunciou, em nota, que encaminhará
uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ministro. O
presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão e o chefe do
gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, manifestaram
apoio à nota, no mais novo contencioso entre as Forças Armadas e um ministro da
Corte. A nota foi assinada pelo ministro Fernando de Azevedo e Silva, que é
general da reserva do Exército, e pelos comandantes do Exército, general Edson
Leal Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior; e da Aeronáutica,
brigadeiro Antonio Carlos Bermudez.
Os bombeiros de sempre entraram no circuito para
circunscrever a crise à nota dos militares, que o ministro Gilmar Mendes tirou
por menos. No Twitter, disse que tem apreço pelas Forças Armadas, mas reiterou
a crítica à presença de Pazuello no Ministério da Saúde, um assunto que também
não é pacífico entre os militares da ativa. O general comanda a pasta
interinamente. A pretexto de cuidar da logística do combate à epidemia, na
prática, opera a “imunização de rebanho”.
É aí que mora o perigo. Estados Unidos e Brasil são
responsáveis por metade dos novos casos de coronavírus registrados nas últimas
24 horas em todo mundo. Pazzuelo está perdendo a guerra, camuflado de burocrata
no seu gabinete da Esplanada, por mais que a nota do Ministério da Defesa
enalteça seu trabalho. No plano internacional, o Brasil virou um pária
ambiental e sanitário. Na opinião pública mundial, os heróis nessa história não
são os militares, são os índios, que têm suas terras invadidas e, agora, de novo,
estariam ameaçados de extinção. Como? Pela covid-19. Bolsonaro é demonizado por
seu desapreço pelas florestas e pelos índios.
A população indígena em 1500 era de aproximadamente 3 milhões, divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo 2 milhões no litoral. Em 1650, esse número caiu para cerca de 700 mil indígenas, chegando a 70 mil em 1957. Cerca de 80 povos indígenas desapareceram no Brasil no século XX. Segundo o IBGE, atualmente, há no Brasil cerca de 817 mil indígenas. Desse total, 502 mil encontram-se na zona rural e 315 mil nos centros urbanos. Em apenas 10 das 505 reservas indígenas (12,5% do território brasileiro), somente dez apresentam uma população indígena maior do que 10 mil habitantes.
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