Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha deixado nas últimas
semanas a prática de ataques públicos a instituições e adversários políticos,
amplos setores de seu governo prosseguem no fomento da polarização e do
conflito ideológico.
Assim o exemplifica a revelação do UOL de que o Ministério
da Justiça deflagrou,
no mês de junho, ação sigilosa para monitorar um grupo de 579
servidores federais e estaduais da área de segurança identificados como
participantes de um “movimento antifascista”.
Além desses funcionários, o dossiê inclui quatro acadêmicos,
entre eles o ex-secretário de Direitos Humanos do governo Fernando Henrique
Cardoso, Paulo Sérgio Pinheiro, desde 2011 presidente da comissão internacional
da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada à República Árabe da Síria.
A produção de um dossiê com nomes, endereços em redes
sociais e, em alguns casos, fotografias coube à Secretaria de Operações
Integradas (Seopi), uma das cinco secretarias subordinadas ao ministro
André Mendonça.
O titular da pasta, como se sabe, foi nomeado por Bolsonaro
em abril para substituir Sergio Moro, que deixou o cargo ao se declarar coagido
a interferir no comando da Polícia Federal —que investiga parentes e aliados do
mandatário.
Mendonça, que ao tomar posse no cargo identificou o
presidente como um “profeta na luta contra a criminalidade”, não parece ter
maiores pruridos quando se trata de agradar ao chefe.
O documento preparado pelo ministério foi encaminhado a
diversos organismos da esfera pública, entre os quais a Polícia Federal, o
Centro de Inteligência do Exército (CIE), a Polícia Rodoviária Federal, a Casa
Civil e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A reportagem despertou a reação de setores da sociedade,
forças políticas e instituições. Já há solicitações para que o ministro deponha
no Congresso, procedimentos em curso no Ministério Público Federal e pedido ao
Supremo Tribunal Federal para que investigue o caso e mantenha a guarda
provisória da documentação.
São respostas justificadas diante de uma iniciativa nebulosa e de aparência persecutória. Cabe ao ministro Mendonça prestar as explicações sobre os motivos que o levaram a investir em tal empreitada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário