Inegáveis a devoção, a energia e a habilidade que os
apoiadores do governo demonstram. A capacidade infinita de enxergar seus ídolos
com filtros coloridos não é estranha a nenhum militante, mas a vida do
bolsonarista é um malabarismo permanente.
A começar pela exaltação da cloroquina. Todos virados em
direção ao Palácio da Alvorada, a meca dos “patriotas”, para louvar um remédio
que inúmeras pesquisas apontam como ineficaz contra o coronavírus.
Rejeitar a ciência, porém, é nada perto do contorcionismo
para apoiar Madonna, que, de feminista de carteirinha e defensora do aborto
legal, e portanto inimiga, passou a correligionária após defender o uso do
medicamento.
E o que dizer dessa massa que passou a eleição falando em
combate à corrupção e à velha política, fim de privilégios e bandido morto e
hoje aplaude Bolsonaro de mãos dadas com o centrão, exalta o ex-presidiário
Roberto Jefferson, defende o foro privilegiado de Flávio Bolsonaro e a prisão
domiciliar de Queiroz?
Um dia o bolsonarista pede a volta da ditadura, desconjura
militar frouxo, diz que a mídia mente. No outro, reclama que vive sob uma
ditadura, clama pelo direito de ir e vir e de desrespeitar medidas sanitárias
de combate à pandemia, defende fake news e liberdade de expressão (a deles).
Eles ainda encontram tempo para, entre uma novela e outra da
Globo, seguir os perfis da “extrema imprensa” só para poder cravar seus
slogans, #globolixo, #folhalixo, #acabouamamata. Menos, claro, a mamata
oficial. O interino da Saúde nomeou uma amiga, sem experiência, para chefiar o
ministério em Pernambuco. E daí? O que pega mesmo os bolsonaristas é a
propaganda de Dia dos Pais com o transexual Thammy Gretchen.
Sem falar nas reclamações rotineiras contra o establishment, que partem inclusive de integrantes do governo e de filhos do presidente. O contorcionismo é admirável. Pense no susto se descobrirem que o establishment são eles.


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