Jair Bolsonaro vestiu chapéu de vaqueiro, subiu no lombo de
uma égua e acenou em festa para a multidão. A mais de dois anos das eleições de
2022, o presidente produziu ontem uma típica cena de campanha. Só a máscara no
queixo lembrava a pandemia em curso.
Com mais de 90 mil brasileiros mortos pela Covid, o capitão
desembarcou no sertão para cumprir agenda de candidato. Ele voltou a ignorar as
recomendações sanitárias: provocou aglomeração e pegou nas mãos de eleitores.
No mesmo dia, o Planalto informou que a primeira-dama está infectada pelo
coronavírus.
Montado na máquina federal, Bolsonaro tenta avançar sobre a
última cidadela do lulismo. O Nordeste foi a única região em que ele teve menos
votos do que Fernando Haddad em 2018. Agora recebe um de cada três reais do
auxílio emergencial.
O programa já produziu dividendos eleitorais. O presidente
ganhou popularidade entre os mais pobres, que passaram a representar 52% de
seus apoiadores. Isso compensou sua queda entre os ricos, desiludidos com o
abandono do discurso anticorrupção.
Ontem o capitão foi recebido com um coro inusitado contra a
Lava-Jato, que ajudou a elegê-lo. Ele desfilou ao lado do senador Ciro
Nogueira, o poderoso chefão do PP. Ex-lulista, o parlamentar é réu no Supremo
por organização criminosa. Há cinco meses, voltou a ser denunciado por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O presidente visitou dois estados governados pelo PT: Piauí
e Bahia. Ele inaugurou uma adutora em Campo Alegre de Lourdes (BA), onde perdeu
para Haddad por 89% a 11%. Em cinco minutos no palanque, citou Deus sete vezes
e repetiu seu slogan eleitoral outras três.
“Quando nós vemos e sentimos a felicidade de um povo quando
chega a água, isso amolece nossos corações”, discursou. A obra já estava quase
pronta quando ele tomou posse, mas isso não foi lembrado na cerimônia.
Bolsonaro esnobou os nordestinos no início do governo. Agora
aposta neles para pavimentar o caminho da reeleição. Não será uma tarefa fácil.
Em junho, o Datafolha mostrou que ele registra 52% de ruim e péssimo na região.
Ainda é seu pior desempenho no país.
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