Na entrada do Palácio da Alvorada, pouca gente deu atenção
quando Jair Bolsonaro fez propaganda do governo na aprovação de novos recursos
para a educação. O presidente tentou assumir o crédito pela proposta do
Congresso e criticou o PT, mas seus apoiadores só queriam saber de negócios
pessoais e da política municipal.
Os passeios em frente à residência oficial eram um ritual
político importante para Bolsonaro, mas a pauta dos últimos encontros sugere
que aquela claque enxerga o presidente como um vereador do interior.
Mesmo em isolamento, Bolsonaro manteve o hábito de conversar
com o grupo. Nesta quarta (22), uma mulher pediu ajuda para reabrir uma
lotérica. O presidente argumentou que já havia editado um decreto que garantia
o funcionamento desses estabelecimentos. A apoiadora explicou que o problema
era particular, uma disputa com seu ex-marido.
“Me desculpa, mas eu não tenho como resolver isso aí. Eu
tenho acesso dentro da Caixa, mas eu não posso encaminhar para eles um caso
particular”, reagiu Bolsonaro. “Minha senhora, eu não posso entrar numa
pendenga particular.”
A portaria do Alvorada já foi o palanque usado por Bolsonaro
para passar recados e atacar desafetos. Agora, os temas se tornaram tão
irrelevantes quanto brigas de família, expondo um presidente que encolheu.
Às vezes, os pedidos da claque irritam Bolsonaro. Ele já interrompeu alguns
apoiadores, deu respostas ríspidas e se recusou a gravar mensagens de apoio.
“Se eu mandar um abraço, todo mundo vai pedir, e eu vou virar o Silvio Santos
aqui”, disse, tentando fazer graça, depois de ser abordado por mais um eleitor.
Quando um apoiador pediu ajuda para resolver um impasse no PSL de Miranda (MS), cidade de 28 mil habitantes, o presidente respondeu que não se envolveria na política municipal. “Nós temos problema de desemprego no Brasil, cresceu a violência”, justificou. Faltou perguntar ao vereador do palácio o que ele tem feito para enfrentar esses dois assuntos.
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