Dá-se como certo entre ministros do Supremo Tribunal Federal
ainda de férias que eles recusarão o pedido do presidente Jair Bolsonaro e da
Advocacia-Geral da União (AGU) para suspender o bloqueio nas redes sociais de
contas usadas por bolsonaristas de relevo para a publicação de fake news.
E por uma simples razão: a AGU, segundo dois ministros
ouvidos por este blog no fim da última semana, advoga em favor dos interesses
do governo, não dos interesses do presidente da República. E o governo nada tem
a ver com o bloqueio das contas. Não eram contas do governo, tampouco do
presidente.
Certamente a AGU deve ter sido pressionada por Bolsonaro a
agir assim. Ele precisava dar uma satisfação aos seus parceiros, mostrar que um
comandante não abandona soldados feridos em meio a uma batalha.
Outros parceiros dele, que não foram atingidos pelo bloqueio de contas, saíram
em defesa do seu gesto.
Recentemente, ocorreu algo parecido com o ministro André
Mendonça, da Justiça, que ao tomar posse se disse “um servidor fiel” de Bolsonaro.
Mendonça entrou no Supremo com um pedido de habeas corpus para tirar do
inquérito das fake news o então ministro Abraham Weintraub, da Educação.
O pedido foi considerado “uma bizarrice” jurídica por
ministros do Supremo. E, por isso, rejeitado. Mendonça é forte candidato à vaga
que se abrirá no Supremo até novembro com a aposentadoria do ministro Celso de
Mello, o decano da Corte. Está empenhado em agradar Bolsonaro desde agora.
Depois da pílula do câncer e da cloroquina, o próximo passo
de Bolsonaro
Fé e bons negócios
Não será surpresa para este blog se o presidente Jair Bolsonaro, a pretexto de
qualquer coisa ou de nada, comece a duvidar dos efeitos das vacinas que vierem
a ser lançadas para deter o avanço do coronavírus. Não o fará contra uma eventual
vacina “made in the USA”, avalizada por seu ídolo Donald Trump. Mas até contra
ela estará à vontade para se lançar caso Trump não se reeleja.
Nada de estranho haverá nisso. Os que duvidam da eficácia de
vacinas chegam a milhões no mundo, muitos deles por motivos religiosos.
Bolsonaro deve sua eleição, em parte, ao voto religioso, principalmente o
evangélico. Natural, pois, para quem, como ele, batizou-se no rio Jordão
interessado em ganhar apoios, que se rebele contra a aplicação de vacinas em
quem prefira não tomá-las.
De resto, Bolsonaro não pensa em renunciar à sua devoção à
cloroquina, da qual virou um presidente garoto propaganda. Deve ter lá suas
razões confessáveis e outras não. A mais inocente delas seria o fato de que
obrigou o Exército a produzir milhões de caixas da droga e agora tem de
desová-las a qualquer custo. Mas essa não foi a primeira vez que ele apostou
errado em um remédio.
Um dos únicos três projetos que Bolsonaro conseguiu aprovar
em quase 30 anos como deputado federal foi o que regulamentou a produção de
fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”. Embora jamais
tenha provado sua eficácia em testes, a pílula ganhou fama após ser distribuída
durante 20 anos pelo químico Gilberto Orivaldo Chierice, da Universidade de São
Paulo.
Em 2016, na tentativa de melhorar sua relação com o
Congresso, a então presidente Dilma Rousseff sancionou o projeto de autoria de
Bolsonaro. Logo depois, porém, por 6 votos contra 4, a pílula do câncer foi
proibida pelo Supremo Tribunal Federal. Sim, parte do Supremo é capaz de
acreditar em milagres. Mais da metade dos seus atuais integrantes foi cliente
do falso médium João de Deus.
Uma vez eleito presidente, Bolsonaro voltou a cobrar que o Supremo reveja sua decisão. “Não dá para esperar”, disse ele à época. Ignorância apenas? Ou mais um sinal de desprezo pela Ciência em linha com uma fatia expressiva dos seus devotos? Ou Bolsonaro apenas antevê mais uma oportunidade de fazer bons negócios? Não se sabe. Possivelmente jamais se saberá.
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