A Presidência da República enviou ao Congresso Nacional a
terceira revisão da Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de
Defesa e o Livro Branco da Defesa Nacional. Revisados a cada quatro anos, os
textos em questão, contêm as mais importantes decisões sobre a defesa do país e
o papel das Forças Armadas na manutenção da soberania, interesses nacionais,
território, recursos, povo e identidade.
O primeiro dos textos estabelece os objetivos da defesa
nacional, o segundo, os meios, e ações, e o terceiro é um grande inventário –
efetivos, equipamento, disposição e recursos – das nossas Forças Armadas.
Tornados efetivos pela lei complementar 136 /2010, da qual
fui relator na Câmara, as três peças visam a submeter ao poder Político da
Nação os objetivos e meios necessários para a dissuasão de ameaças externas, de
sustentação ao nosso desenvolvimento e projetar o poder nacional onde
necessário em apoio à política externa e à capacidade de dizer não em nome da
nação, quando necessário.
Até aqui, o Congresso tem se alienado de assumir suas
responsabilidades em dialogar com as Forças Armadas para a definição de seu
papel nesse abrangente contexto. Exemplo disso, a política e a estratégia
anteriores, de 2016 a 2020, foram “aprovadas” pelo Senado e Câmara em votação
simbólica, sem a realização de uma audiência pública sequer, sem debates e sem
participação da sociedade.
Aliás, a política de defesa e a estratégia de defesa de
2016, que tiveram minha coordenação, enviadas em 18 de novembro daquele ano, só
lograram aprovação em 17 de dezembro de 2018. Não sancionadas pelo presidente
Temer, de saída, também não o foram pelo presidente atual, ficando o Brasil com
oito anos de defasagem nessa área, pois baseado nos textos de 2012.
Os textos de 2020 são políticas de Estado e têm um alto
fator de continuidade com os anteriores, com algumas mudanças. Já contemplam
possíveis conflitos armados na América do Sul, a situação do Atlântico Sul, por
onde passam 97% de nossas exportações, atrai interesses de nações ao norte pela
descoberta de petróleo no Golfo da Guiné. A Amazônia segue sob pressão e o
Ministério da Defesa reivindica que seu orçamento passe dos atuais 1.3% do PIB
para 2.0.
Num momento em que os militares estão no centro do debate, é
hora de o poder político assumir as suas responsabilidades e definir os rumos
da defesa nacional e das nossas Forças Armadas, sob pena de amanhã ser
qualificado como agente omisso do nosso destino, defesa e democracia.
*Raul Jungmann – ex-deputado federal, foi Ministro do Desenvolvimento Agrário e Ministro Extraordinário de Política Fundiária do governo FHC, Ministro da Defesa e Ministro Extraordinário da Segurança Pública do governo Michel Temer.
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