Na análise das contas públicas, o que se olha sempre é
quanto custa fazer. Quanto dos recursos dos contribuintes será destinado a um
programa específico ou foi desperdiçado em alguma obra inacabada. O estudo
apresentado ontem sobre educação faz uma inversão completa do olhar e mostra um
ângulo novo: qual é o preço de não educar os jovens, de permitir que eles
desistam da escola antes de completar o ensino básico? O Brasil perde por ano
R$ 214 bilhões. É muito mais caro não educar do que educar.
Os caminhos para encontrar os números foram trilhados por
ninguém menos que Ricardo Paes de Barros, mestre da precisão técnica exatamente
na área das políticas sociais. Ele e a economista Laura Machado, ambos do
Insper, colocaram sobre a mesa uma sequência impressionante de informações. O
Brasil tinha, em 2018, 3,3 milhões de jovens de 16 anos. Hoje, um em cada
quatro jovens não conclui o ensino básico, mas esse número tem caído. Por isso,
a conta é feita projetando-se que, desses jovens do ano estudado, 17,5% não devem
concluir o ensino básico. Isso representa uma multidão. Ao todo, 575 mil vão
sair da escola antes de completar os 11 anos da educação básica.
Isso criará uma sequência de eventos: quem não conclui os
estudos acaba tendo mais dificuldades de se inserir no mercado de trabalho,
quando tiver emprego será com menor remuneração, muitas vezes na informalidade.
Terá uma qualidade de vida pior, terá uma vida mais curta e pode, muitas vezes,
ser vítima da violência. Isso será trágico para cada jovem. Mas custará caro
para o país, explica o estudo. São as externalidades. Ou seja, nem todo o fruto
do esforço de educação é apropriado pela pessoa em si. Uma parte fica com toda
a sociedade em forma de riqueza que circula. Pode-se entender isso de forma
abstrata, mas a pesquisa feita em parceria pela Fundação Roberto Marinho e pelo
Insper tem a vantagem de colocar números no que antes eram impressões.
A ideia surgiu de uma pergunta feita pelo secretário-geral
da Fundação, Wilson Risolia, economista e educador. Ele mesmo fez um caminho
pedregoso até se formar, diante das dificuldades financeiras da família. Sabe o
esforço que foi preciso para concluir os estudos. Existe o valor intangível da
educação e sobre ele podemos pensar e sentir. A importância de levar para dados
tangíveis é que eles passam a ser argumentos fortes nas escolhas das políticas
públicas e dão concretude aos debates.
O país perde anualmente R$ 372 mil por jovem que deixa de
estudar. É a soma da perda pessoal e do que ficaria para a sociedade do esforço
individual. O custo de oferecer toda a educação, da pré-escola ao fim do ensino
médio, é de R$ 90 mil por estudante. “Assim, o custo de evasão por jovem é
quatro vezes maior do que o de garantir a sua educação”. Ao todo, a evasão
escolar tem um peso de 3% do PIB anual, diz o estudo.
Há um risco maior agora com a pandemia. As pesquisas mostram
que muitos jovens estão ficando desanimados nestes longos meses do nosso
padecimento. É urgente que quem está em alguma posição de poder se emocione, se
mobilize e ajude a levar os jovens de volta ao caminho da escola. O presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, no lançamento do estudo, admite que todas as urgências
do país ficaram maiores.
— Vamos ter muito desafio e na educação não vai ser
diferente. Quatro ou cinco meses de crianças sem escola, a falta de tecnologia
de muitas crianças, o parlamento tem que estar dialogando e construindo
soluções — afirmou.
A educação é um direito. Por isso, o título do estudo é
“Consequências da Violação do Direito à Educação”. Paes de Barros ressaltou
como a evasão escolar é uma das causas para a desigualdade social no país.
— Numa família rica, com pais educados, a probabilidade de o
filho não concluir o ensino médio hoje é praticamente zero. Numa família muito
pobre, no interior do Nordeste ou da região Norte, onde a criança vive com a
mãe e sem o pai, e ela é analfabeta, esse número facilmente chega a 80% a 90% —
explicou.
Risolia contou que numa pesquisa recente ouviu que muitos jovens viam a educação como um sonho, quando na verdade é um direito. No começo dos anos 1990, 60% das crianças não concluíam o ensino médio, agora o número é bem menor. Falta fazer o resto da estrada. O preço de desistir dos jovens é alto demais.
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