O ministro em quem Jair Bolsonaro mais confia é um dos que
mais desperta a desconfiança de seus apoiadores. Para aplacar essa resistência,
o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) conversou no sábado com o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, em seu canal no YouTube, com
mais de 602 mil inscritos.
Em meio a uma relação tensa com o Supremo Tribunal Federal
(STF), Bolsonaro não quer sofrer mais baixas entre seus seguidores depois que
indicar Jorge Oliveira para a vaga do ministro Celso de Mello, que se
aposentará em novembro.
De perfil discreto e afável no trato, Oliveira construiu pontes
com ministros do STF, como o presidente Dias Toffoli e o ministro Gilmar
Mendes. Mas se esse perfil moderado favorece o diálogo com outros poderes, em
contrapartida, desagrada os bolsonaristas, que preferem estilos mais radicais,
como o ex-ministro Abraham Weintraub.
Durante a conversa, Jorge afirmou que o delegado Alexandre
Ramagem pode ser nomeado de novo para o cargo de diretor-geral da Polícia
Federal (PF). “Há possibilidade”, admitiu.
Segundo o ministro, assim que o inquérito que apura o
suposto desvio de finalidade na indicação de Ramagem, baseado na denúncia do
ex-ministro Sergio Moro, for concluído, “não haverá óbice” para um novo ato de
nomeação de Ramagem. Ele disse acreditar que o desfecho do inquérito, que é
relatado pelo decano Celso de Mello, “ocorrerá em breve”. A nova prorrogação da
investigação acaba no fim do mês.
Jorge destacou que a decisão do ministro Alexandre de Moraes
sobre Ramagem não contestou a qualificação do delegado para comandar a PF,
porque apenas suspendeu, e não impediu a sua nomeação. “Foi apenas uma
prudência para suspender a posse” até o esclarecimento das acusações do
“ministro da Justiça anterior”.
Fica nítido o cuidado em omitir o nome de Sergio Moro, que
por ironia, foi o primeiro convidado de Eduardo em seu canal no YouTube. “É uma
honra receber aqui o ministro que se tornou mais do que referência em combate à
corrupção, e também uma referência de caráter”, disse o filho de Bolsonaro na
estreia do programa há cinco meses.
Num espaço voltado principalmente à base bolsonarista, Jorge
afirmou que o relacionamento do governo com o STF “é o melhor possível”.
O ministro ressaltou que Bolsonaro sempre respeitou as
instituições. Argumentou que embora o presidente seja acusado de gestos
arbitrários, disputou nove eleições em sua trajetória, e antes de tomar posse
na Presidência, visitou todos os tribunais superiores e se colocou à disposição
dos ministros.
“Há uma inconformidade com as atitudes dele [Bolsonaro], mas
temos no regime democrático as formas de nos inconformarmos, e hoje o diálogo é
muito bom”, acrescentou. “Aos poucos a gente vai conseguindo governar”.
No intuito de afinar a relação de Jorge com os apoiadores do
presidente, Eduardo pediu que ele falasse sobre a longa relação de amizade de
sua família com os Bolsonaros. O ministro lembrou que seu pai, o capitão Jorge
Francisco, foi assessor do então deputado Jair Bolsonaro por 20 anos, até
falecer em 2018. E ele trabalhou durante anos nos gabinetes de Bolsonaro e de
Eduardo, até a eleição presidencial.
Ao fim, Eduardo disse para os internautas que ali estava
“certamente um dos principais ministros, a pessoa que está diariamente com o
presidente”. Reforçou: “Se vocês virem o presidente com a cara abatida, de
farol baixo porque teve um dia cansativo, saibam que ele vai estar ao lado aqui
do Jorge Oliveira”.
Até o fechamento desta coluna, o programa tinha mais de 49
mil visualizações e mais de 1,2 mil comentários. Reproduzo alguns deles, que
demonstram as restrições de bolsonaristas a Jorge Oliveira:
“Tem muito duas caras no governo infelizmente” (LR)
“Sinto muito, Eduardo, mas não consigo acreditar nesse
ministro” (IS)
“Esse Jorginho não me parece que está do lado do JB! Ele tá mais pra
progressista e oba-oba. Não serve pra ser conselheiro do presidente” (ACA)
“Jorge, Ramos, Braga Neto e o Mendonça, nós conservadores
não apoiamos, estão apagando a luz do Bolsonaro” (MA)
“Eduardo, me perdoa, mas nesse Jorge não dá pra acreditar”
(VD)
“Gosto desse sr Jorginho aí não, deputado. I’m sorry.” (MM)
Veto
Geólogo de formação, o empresário Marco Stefanini, fundador e CEO Global do
Grupo Stefanini, que atua em 41 países, adverte que antes de destruir a
pinguela, o governo precisa construir a ponte.
Apontada como a 5ª empresa brasileira mais
internacionalizada, segundo o ranking da Fundação Dom Cabral, a Stefanini
insere-se no setor de Tecnologia da Informação (TI), um dos 17 atingidos pelo
veto de Jair Bolsonaro à prorrogação da desoneração da folha de pagamento até
2022.
Marco Stefanini diz que o veto contradiz o discurso do
presidente que, no início da pandemia, afirmou que era preciso se preocupar com
a saúde, mas também com a economia e o aumento do desemprego.
Se o Congresso não derrubar o veto, o setor de TI deixará de
contratar 400 mil profissionais de alta qualificação em três anos, e pode
perder até 150 mil dos atuais empregos formais. “Estamos falando de meio milhão
de empregos altamente qualificados”, ressaltou.
A Stefanini tem 14 mil empregados no Brasil. O empresário
lembra que a desoneração da folha de pagamento começou pelo setor de
tecnologia, que era dominado pela “pejotização”. O subsídio reverteu esse
quadro e viabilizou um aumento de 20% nas contratações com carteira assinada no
setor.
O CEO da Stefanini contesta a alegação do governo de que a
desoneração da folha de alguns setores compromete a isonomia no mercado. “Eu
entendo que eles querem medidas mais transversais do que setoriais, só que na
prática antes de destruir, você tem que construir”.
Ele compreende que o governo busque um modelo mais amplo, mas pondera que numa situação de pandemia, com empresas fechando, não dá para aguardar a reforma tributária. “O bom é inimigo do ótimo, o mundo não é perfeito, e a manutenção da desoneração neste momento é o que faz menos mal”.
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