Bolsonaro reforça operação política para sobreviver no poder
Jair Bolsonaro entrou de vez no jogo da sobrevivência no
poder. Num movimento duplo, o presidente ensaiou um esvaziamento de aliados
mais radicais e reforçou a transferência das articulações do governo para os
partidos do centrão.
O pacote é uma das operações políticas mais expressivas
lançadas por Bolsonaro desde que o deputado incendiário chegou ao Planalto. Nas
últimas semanas, o presidente aceitou contrariar parte de sua base e se lançou
na contramão de suas plataformas de campanha.
Depois de fazer carreira como um parlamentar extremista,
Bolsonaro resolveu escantear alguns auxiliares mais barulhentos. Abraham Weintraub
era um queridinho do clã presidencial, mas acabou demitido e despachado para os
EUA para evitar a autodestruição do governo.
Integrantes da tropa de choque do Planalto também foram
alvos dessa tentativa de depuração. A última vítima foi a deputada Bia Kicis
(PSL), que perdeu a vice-liderança do governo na Câmara ao votar contra a
ampliação de despesas com a educação.
Bolsonaro confiava nesses aliados, mas foi obrigado a
envolver o governo numa camisa de força depois que o Planalto foi cercado por
por investigações sobre rachadinhas e fake news. O tom menos raivoso acabou
frustrando o núcleo ideológico de sua base de apoio, que foi um dos pilares de
sua eleição em 2018.
O presidente também traiu o candidato ao mergulhar fundo nas
relações com o centrão. Isolado politicamente, ele abriu as portas de seu
gabinete aos mesmos caciques partidários que atacava para polir o personagem
antissistema.
Primeiro, o governo abandonou a bravata eleitoral e
distribuiu cargos aos parlamentares dessas legendas. Agora, planeja terceirizar
oficialmente as negociações no Congresso para os deputados desse grupo.
O resultado das piruetas políticas será determinante para o futuro do governo. No passado, Bolsonaro já simulou outras correções de rumo, mas sempre acabou retornando ao bolsonarismo autêntico.
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