Quando Nelson Teich chegou ao Palácio do Planalto, em abril,
para receber o convite para o Ministério da Saúde, ostentava máscara no rosto,
como manda o protocolo médico. Assim que assumiu o cargo, ele passou a ser
visto sem máscara nos eventos palacianos porque esse é o dress code do bolsonarismo.
O uso de máscara no governo Bolsonaro é visto como sinal de fraqueza. Por isso
eles sempre orgulhosamente mostram-se com o rosto preparado para a infecção do
vírus. Os ministros acabaram constrangendo os servidores, e o governo impediu o
afastamento de funcionários que tiveram contato direto com o presidente.
As máscaras que os bolsonaristas não usam contra a Covid-19
o bolsonarismo usa para atuar em redes digitais. Escondem-se atrás de perfis
falsos para ofender, mentir, caluniar, manipular. O que é mais grave, para
conspirar contra a ordem democrática. O importante da derrubada das páginas do
Facebook é o que a ação revela. Ou comprova. Dentro do Palácio do Planalto,
funcionários pagos com os impostos dos brasileiros estão simulando identidades
para atacar pessoas e instituições e postar elogios ao próprio governo. O
presidente e seus filhos são parte desse uso miliciano da internet. Eles foram
desmascarados. E agora é Jair Bolsonaro quem tem que explicar o que fazem tão
perto dele esses assessores e por que não teve qualquer atitude para impedir
essa atuação.
O Facebook definiu como “comportamento inautêntico
coordenado”. E a atuação desses mascarados do Planalto era intensa. Muitas
contas, páginas e perfis no Face e no Instagram. Ao fim, quase dois milhões de
seguidores. “Sabemos que elas continuarão tentando ocultar a origem das suas
atividades”, disse o Facebook. De fato, eles continuarão tentando usar máscaras
digitais para se esconder. E achavam que assim, como o Coringa, teriam suas
identidades protegidas. Ganharam a eleição levando ao extremo o ódio digital,
governam da mesma forma mobilizando as redes de ódio. Quando falta adversário,
atacam os próprios governistas. Os amados de um dia podem ser odiados no dia
seguinte, dependendo de para onde vai esse grupo batizado piedosamente de “ala
ideológica”.
Não há ideologia nisso, há a prática continuada de crime.
Quem movimenta essas redes, atrás de algum disfarce, acaba produzindo quedas de
ministros, ou nomeação de ministros. Portanto, atrás das máscaras, os filhos do
presidente governam. Foi assim que demitiram o general Santos Cruz, para ficar
no exemplo mais evidente. Foi assim que cancelaram o apoiador de primeira hora
Gustavo Bebianno. Assessores alocados na presidência da República ou nos gabinetes
dos filhos parlamentares atuam com máscaras. Escondem a identidade e agem como
milícias digitais. O bolsonarismo governa assim. No domingo passado o que se
viu foi Renato Feder, um candidato a ministro da Educação, ser devorado por
esses ataques vindos de uma suposta opinião pública. Era a briga intestina do
bolsonarismo.
O Facebook, segundo a Bloomberg, está analisando a
possibilidade de impedir a propaganda eleitoral nas suas redes sociais nos dias
próximos da eleição americana. Exatamente para evitar que as plataformas sejam
caminho de manipulação de informação. Isso está sendo estudado porque pode
atrapalhar a campanha em favor do voto — que lá é voluntário — ou limitar a
capacidade dos candidatos de responder rapidamente a alguma notícia. Seja como
for, a gigante da comunicação está tentando encontrar caminhos para evitar o
que tem acontecido em vários países.
No Brasil, a particularidade é que um dos mascarados tem o
título de “assessor especial da presidência” e mora em apartamento funcional. E
todos os outros estão sendo pagos com dinheiro público para, em horário do
expediente, exercerem suas atividades ilegais por trás de máscaras digitais.
Jair Bolsonaro tem deliberadamente estimulado um comportamento em relação à pandemia que põe em risco a população. Não usar máscaras é um desses incentivos que ameaçam a saúde pública. Contra a democracia brasileira, ele usa estratégia oposta: a de que seus assessores e apoiadores próximos atuem atrás de máscaras. Ele próprio usa a sua quando diz “sobrou para quem me apoia”. Bolsonaro sabe o que faz atrás da máscara de perseguido pelo Facebook que tenta usar.
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