O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato
derrotado do PT à presidência em 2018, está preocupado com a repercussão que
teve a afirmação do ex-ministro Delfim Netto de que o PT traiu Ciro Gomes,
viabilizando a vitória de Bolsonaro. “Me dou bem com o Delfim, é um
interlocutor antigo, mas ele usou uma palavra que não faz o menor sentido.
Nunca houve nenhum acordo com o Ciro para ser traído”.
Haddad admite que tentou uma aproximação com o PDT, e até
que propôs que Ciro aceitasse ser vice de Lula para, sendo o ex-presidente
impedido de se candidatar pela Justiça eleitoral, assumir a cabeça de chapa.
Mas tudo em nome pessoal, sem o aval do PT.
“Houve uma aproximação, até inadvertidamente, pois não tinha
autorização do PT, me reuni com o Ciro na casa do Chalita (Gabriel Chalita,
ex-secretário de educação de Haddad em São Paulo) para conversar, para saber o
que ele estava pensando”. No jantar, segundo relato de Haddad, Ciro dava como
certo que o Lula não teria alternativa, e falou, inclusive, que o PT teria que
fazer acordo com ele.
A certa altura, diz Haddad, o pedetista chegou a dizer:
tenho tanto respeito por você, que, numa chapa nossa, nem importa quem vai
estar na cabeça. “Claro que ele falou isso por diplomacia. Eu não sou bobo. O
Chalita depois me chamou atenção para o gesto que o Ciro havia feito”. Haddad
disse na ocasião que respeitava muito Ciro, e que ia tentar fazer essa
aproximação com o PDT.
“Tentei manter as pontes. Tentei aproximá-lo e o Lupi (Carlos
Lupi, presidente do PDT) do Lula, eles estavam muito distantes naquela
ocasião”, recorda-se Haddad. Quando aconteceu a condenação do Lula, pouco
depois desse encontro, Haddad diz que ligou para Lupi dizendo que Lula estava
ressentido, pois não dera nenhuma ligação para ele. A meu pedido, relata
Haddad, ele foi fazer uma visita pessoal ao Lula no Instituto.
A reunião com Ciro no escritório do ex-ministro Delfim Netto
“não era para ser uma reunião política, mas para discutir projetos de
desenvolvimento”, alega Haddad, que disse ter aceitado o convite de Bresser
porque era o coordenador da área econômica do PT. “ Tanto que de petista só
estava eu”.
“Apesar dos gestos que eu pessoalmente tinha feito de
aproximação”, argumenta Haddad, “não houve nenhuma tentativa de acordo para
valer”. Segundo relato do jornalista Mario Sérgio Conti na Folha de S. Paulo,
que estava presente na reunião, tanto Haddad quanto Ciro Gomes “acham possível
que o PDT e o PT formem uma chapa conjunta já para o primeiro turno, com Haddad
como vice”.
Ele admite que teve uma conversa com Mangabeira Unger,
professor de Harvard e ex-ministro dos governos Lula e Dilma, na presença de
Carlos Sadi, professor da UFF e principal assessor do Mangabeira no Brasil, que
fez uma tese sobre ele que foi orientado por Haddad. “Expliquei ao Mangabeira
que seria muito difícil convencer Lula a desistir da candidatura, porque ele
tinha a expectativa de que a ONU se manifestasse, e os advogados dele insistiam
que havia possibilidades jurídicas, e ele estava com essa ideia fixa de que
conseguiria viabilizar sua candidatura”.
“Mangabeira argumentou que a esquerda corria um risco enorme
de perder, e eu fiz a proposta”, alega Haddad, avisando que era a título
pessoal: “O Ciro aceitaria ser vice na chapa do Lula para, em caso de
impedimento, aí sim assumir a cabeça de chapa?”. Mangabeira disse que não
aceitaria, nem ele achava que deveria aceitar.
Fernando Haddad diz que não desistiu de manter as pontes, e
quando Lula estava para ser preso, ligou para seus amigos do PDT e falou: “Não
vem ninguém do PDT aqui em São Bernardo?”. (No Sindicato dos Metalúrgicos, onde
Lula ficou até ser levado para a cadeia pela Polícia Federal). Haddad explica
que estava pedindo “um gesto para aplainar o terreno, para ver se a gente
conformava uma situação de campo (da esquerda), que defendo desde 2016”. Ele
diz que desde a vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos
estava convencido de que a extrema-direita poderia estar no segundo turno no
Brasil, e que era preciso que o “campo progressista” se unisse.
Quando perguntado se ele considerava na ocasião que uma chapa Ciro-Haddad poderia derrotar Bolsonaro, o ex-prefeito de São Paulo hesita: “Não sei. A onda da extrema-direita era muito forte”.
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