O governo ainda se sentia poderoso, em meados do ano
passado, quando Paulo Guedes decidiu trombar com o Congresso. Irritado com as
mudanças feitas em sua proposta de reforma da Previdência, o ministro criticou
os deputados e disse que eles não tinham “compromisso com as futuras gerações”.
O czar da economia chegou a Brasília com a impressão de que
ganharia suas batalhas no grito. Acreditava que a vitória de Jair Bolsonaro
pavimentaria a implantação de uma agenda liberal, ignorando o fato de que nem o
presidente havia comprado aquelas ideias com convicção.
O ministro finalmente conheceu as limitações do governo. Ao
apresentar a primeira fatia de sua reforma tributária, ele reconheceu que as
propostas do Executivo devem “ser trabalhadas” pelos parlamentares e acrescentou
que “é a política que dita o ritmo” dessas mudanças.
A atitude de Guedes reflete o desgaste de um governo que
sempre investiu no conflito para exercer o poder. A reforma oferecida pelo
ministro indica que Bolsonaro não tem capital suficiente para atropelar o
Congresso e impor propostas amargas.
Além de se esquivar de choques com os parlamentares, Guedes
mandou para a geladeira os pontos mais impopulares do projeto. A criação de uma
nova CPMF ficou para depois, e a ideia de tributar os produtos da cesta básica
foi deixada de lado.
Na reforma da Previdência, o governo apostou mais alto.
Tentou aprovar um modelo de capitalização para as aposentadorias e propôs a
redução de benefícios para idosos muito pobres. Perdeu as duas brigas.
A mudança de comportamento não se deu por modéstia, mas
porque os últimos 18 meses enfraqueceram Bolsonaro e obrigaram o presidente a
estabelecer outras prioridades.
Atualmente, o governo opera para proteger um chefe investigado —e não para aprovar projetos de seu interesse. Nos últimos meses, o Planalto distribuiu cargos e emendas para blindar Bolsonaro e sua família. Discussões sobre a economia devem ser atendidas em outro guichê.
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