O pronto-socorro do doutor Dias Toffoli voltou a fazer
milagres no recesso. Ontem o presidente do Supremo impediu uma operação que
mirava o senador José Serra. A Polícia Federal tentou recolher documentos no
gabinete do tucano, mas foi barrada na portaria.
Toffoli atendeu a uma reclamação do presidente do Senado,
Davi Alcolumbre. Eleito com a promessa de renovar a Casa, ele se empenhou na
blindagem do colega. Antes de recorrer ao Supremo, ligou para um delegado da PF
e pediu que o mandado de busca e apreensão não fosse cumprido. A carteirada
funcionou.
Alcolumbre não falou francês, mas seu telefonema lembra a
atitude do desembargador que se recusava a usar máscara em Santos. Irritado com
a multa, o magistrado ofendeu os guardas que faziam seu trabalho. O presidente
do Senado não precisou humilhar ninguém. Apenas usou o poder para evitar o
cumprimento de uma ordem da Justiça Eleitoral.
Pouco depois, Toffoli suspendeu de vez a operação. O
ministro afirmou que o mandado de busca padeceria de “extrema amplitude”. Por
isso, haveria “risco potencial” de a PF apreender documentos ligados à
atividade parlamentar do senador.
Na linguagem do futebol, o juiz Toffoli apitou “perigo de
gol”. Sua decisão sugere que os agentes poderiam encontrar provas de crimes
cometidos por Serra no exercício do mandato. Nesta hipótese, o senador estaria
protegido pelo foro privilegiado.
É uma linha de raciocínio curiosa. No ano passado, o Supremo
enviou o caso do tucano para a primeira instância. Argumentou-se que as
suspeitas de caixa dois não tinham relação com o mandato de senador. Agora o
presidente da Corte diz que o juiz eleitoral não poderia ordenar a busca no
gabinete. O foro privilegiado não valia, mas voltou a valer.
Como o tribunal está em recesso, o Ministério Público não tem a quem recorrer. Responsável pelo plantão judiciário, Toffoli decidirá tudo sozinho até o início de agosto. Quando a folga suprema acabar, a operação de busca terá deixado de fazer sentido. Se havia algo a ser encontrado no gabinete de Serra, não haverá mais.
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