Passados mais de seis anos desde o início da Operação Lava
Jato, é possível constatar que as investigações sobre corrupção causaram menos
incômodo ao PSDB do que ao PT e ao MDB, siglas que se revezaram no poder com os
tucanos por três décadas.
Acusado de receber propina da gigante de alimentos JBS e das
empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, o deputado Aécio Neves (MG) é réu
em duas ações penais, mas elas tramitam lentamente e parecem longe de um
desfecho.
Nas últimas semanas, uma ofensiva desconcertante atingiu
o senador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin, que mandaram
em São Paulo por quase vinte anos e concorreram duas vezes cada um à
Presidência da República.
No início deste mês, o Ministério Público apresentou à
Justiça denúncia contra Serra pelo crime de lavagem de dinheiro. Ele e sua
filha são acusados de movimentar ilegalmente no exterior recursos destinados a
campanhas eleitorais do senador.
Em outra ação, desencadeada na terça-feira (21), a Polícia
Federal fez buscas em endereços ligados a Serra e prendeu um empresário
apontado como articulador de um esquema de caixa dois.
Um despacho do presidente do Supremo Tribunal Federal,
ministro Dias Toffoli, frustrou a tentativa dos policiais de estender as buscas
ao gabinete do tucano no Senado.
Na quinta (23), promotores de São Paulo pediram à Justiça
Eleitoral abertura de ação
contra Alckmin, acusado de receber mais de R$ 10 milhões do caixa dois da
Odebrecht para suas campanhas.
A influência política de Serra e Alckmin hoje em dia é uma
sombra pálida da exercida no passado. Ainda assim, a sequência de ações
assombra os tucanos, ao revirar esqueletos de administrações passadas e
relações com empreiteiras.
Alckmin disse que as acusações contra ele são infundadas,
mas se afastou do posto que se preparava para assumir na coordenação da
campanha do prefeito da capital, Bruno Covas, que deve concorrer à reeleição
neste ano.
As ações são particularmente embaraçosas para o governador
João Doria, que está de olho nas eleições de 2022 e vem se distanciando da
velha guarda do partido para tentar viabilizar suas notórias aspirações
presidenciais.
Caberá agora à Justiça examinar os casos de Aécio, Serra e Alckmin com o rigor adotado contra políticos de outros partidos. Espera-se também que o faça com celeridade e atenção a eventuais excessos da Lava Jato —que não seriam os primeiros— nessas ações tardias.
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