domingo, 26 de julho de 2020

DIÁRIO DA CRISE

Do Blog do Gabeira

DIÁRIO DA CRISE CXXIX

Estudo publicado pela revista Science mostra que o isolamento social conseguiu reduzir pela metade a taxa de transmissão do coronavírus no país. Era de 3 por pessoa contaminada, caiu para 1,6.

Pena que o isolamento só veio depois que o vírus já estava circulando. Além disso, nas primeiras semanas ainda houve aquele vacilo da OMS sobre as mascaras.

Morreu Olivia de Havilland atriz de E o Vento Levou, aos 104 anos. Que longa vida. A avô de um amigo meu já chegou aos 105 e continua firme. A cuidadora contraiu Covid-19 e ela passou incólume apesar da proximidade do vírus.

Há pessoas que são candidatas naturais à eternidade. O problema é que depois de algum tempo, começam a falhar os sentidos, audição, vista e, finalmente, a lucidez.

Não sei o que é melhor, seguir sofrendo ou morrer num bom momento. Leio em Jorge Luis Borges algumas metáforas sobre a morte, quase todas usando o sono.

A mais interessante é da do blues: old rocking chair, velha cadeira de balanço. Morrer dormindo numa velha cadeira de balanço talvez seja melhor.

Nesse momento em que se falam tanto em fake news e insultos, um texto de Borges ajuda também a elaborar algo sobre a arte da injúria. Há sempre a clássica definição da profissão de nossa mãe, passando pelos lugares para onde devemos ir, segundo os agressores.

Borges conseguiu, com sua cultura enciclopédica,  pescar alguns casos raros de injúria, como essa frase atribuida a um tal Dr. Johnson:

“Sua esposa, cavalheira, com o pretexto de trabalhar num prostíbulo, vende artigos de contrabando”.

Há também o caso de um homem chamado Santos Chocamo. O que disseram dele não é comum.

“Os deuses não consentiram que Santos desonrasse o patíbulo, nele morrendo. Está aí vivo, depois de haver fatigado a infâmia”.

Santos Chocamo venceu os seus detratores, apesar de tudo.

Conversa de domingo. Amanhã voltamos ao trabalho. Foi uma semana luminosa. Hoje surgiram algumas nuvens e a previsão para a próxima não é tão animadora. Mas o que fazer, a não ser esperar de novo o sol que, em algum momento, voltará.

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