Flávio Bolsonaro tem muitos problemas, mas não pode reclamar
da sorte. Desde 2018, o Ministério Público acumula provas contra o senador. Os
investigadores acreditam que ele montou uma organização criminosa para desviar
dinheiro da Assembleia Legislativa do Rio. As suspeitas só aumentam, mas uma
sucessão de manobras e percalços impede que o caso vá adiante.
No ano passado, a investigação foi paralisada duas vezes
pelo Supremo Tribunal Federal. No plantão de janeiro, o ministro Luiz Fux
trancou o inquérito a pedido da defesa. O Zero Um ainda não havia tomado posse,
mas alegava ter direito ao foro privilegiado em Brasília. No mês seguinte, o
ministro Marco Aurélio cassou a liminar e mandou o caso de volta à primeira
instância.
No plantão de julho, o ministro Dias Toffoli jogou outra
boia para o primeiro-filho. Ele aceitou a tese de que um relatório do antigo
Coaf teria sido compartilhado sem autorização judicial. O documento mostrava a
movimentação milionária nas contas de Fabrício Queiroz, segurança e motorista
de Flávio. Também registrava depósitos em espécie para o Zero Um, que costuma
pagar contas e comprar imóveis em dinheiro vivo.
Em dezembro, o Supremo concluiu que não havia nada de errado
no envio de informações ao MP. O ministro Toffoli retificou o voto e passou a
apoiar o compartilhamento de dados. Entre a liminar e o julgamento, o senador
ganhou um refresco de quatro meses e meio.
Em junho passado, a polícia prendeu Queiroz e o MP fez saber
que Flávio seria acusado de peculato, organização criminosa e improbidade
administrativa. Às vésperas da denúncia, os desembargadores Paulo Rangel e
Monica Tolledo voltaram a suspender o caso. A dupla entendeu que o Zero Um
tinha direito a foro privilegiado no Tribunal de Justiça do Rio. A blindagem
protege os deputados estaduais, cargo que ele deixou de ocupar ao virar
senador.
Na quinta-feira, o tribunal informou que o MP perdeu o prazo
para recorrer contra a regalia. Na sexta, uma reportagem da “Folha de S.Paulo”
informou o motivo. A procuradora Soraya Gaya, que já elogiou Jair Bolsonaro nas
redes sociais, acessou a intimação sem avisar os colegas. Com isso, a doutora
antecipou a contagem do prazo em três dias. Agora ela será alvo de uma
sindicância.
A sorte de Flávio é tamanha que chega a transbordar para
Queiroz. Em julho, ele saiu da cadeia graças a um habeas corpus do presidente
do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha. Generoso, o ministro
estendeu o benefício à mulher do ex-PM, que estava foragida e não integra o
grupo de risco da Covid-19.
Na quinta-feira, uma notícia voltou a preocupar os
Bolsonaro. O ministro Felix Fischer cassou a liminar de Noronha e determinou a
prisão do casal. Marido e mulher já esperavam o camburão quando foram salvos
por um habeas corpus de Gilmar Mendes. O juiz do Supremo teve uma noite e tanto
na sexta-feira. Além de salvar Queiroz, ele participou de uma live com
dirigentes do MST. Depois de anos de pregação contra os sem-terra, ouviu João
Pedro Stédile chamá-lo de “nosso ministro”.
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