O marciano desavisado que olhasse as manchetes do Brasil
nesta terça-feira, uma semana antes do prazo final para o envio do Orçamento de
2021 ao Congresso, acreditaria nos versos de Rita Lee, segundo os quais “pra
variar estamos em guerra”.
O senhor da guerra é Jair Bolsonaro, cuja última diatribe é
esquadrinhar uma divisão de recursos que privilegia a Defesa em detrimento da
Educação durante uma pandemia que vitimou centenas de milhares, continua
comendo solta e deixou estudantes em casa por um ano, muitos dos quais ao
Deus-dará.
Pelo último esboço da proposta que tem de ser enviada até o
dia 31, a Defesa teria R$ 8,2 bilhões a mais de dinheiro que a Educação.
Em tempos de uma “briga danada” pelo Orçamento, como afirma
o próprio presidente, a escolha de prioridades diz tudo sobre o governo de
turno, mais preocupado em recompor o que considera “injustiças” com os
militares cometidas desde a redemocratização, que na verdade são apenas um
tremendo reforço a privilégios seculares.
Enquanto isso, num país em que uma menina de 10 anos tem de
ser submetida a um aborto legal porque engravidou do tio que a estuprava
seguidamente desde os 6, educar crianças e jovens não é uma urgência.
Bolsonaro pode estar se sentindo com a bola toda dada sua
circunstancial subida nas pesquisas. Mas essa receita descompensada de dilmismo
fiscal, populismo nacionalista à la Médici e delírios chavistas de
militarização não têm como resultar em boa coisa na plena vigência de alguns
estatutos legais.
São eles a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e
a já condenada lei do teto de gastos, pelos quais os demais Poderes precisam
zelar. Paulo Guedes resolveu ficar e tapar de novo o nariz a tudo que está
sendo feito pelo chefe, e que representa a negação cabal de sua doutrina
liberal.
Agora também parece disposto a bater continência e abrir as
burras da Viúva para um projeto de hipertrofia da Defesa que não esconde a
velha crença de Bolsonaro de que se, lá na frente, precisar fechar o STF e o
Congresso, vai precisar do cabo e o soldado satisfeitos e engajados no seu
projeto.
PARTIDOS: Recuperação de Bolsonaro embaralha cenário para
2022
A momentânea reação de Jair Bolsonaro nas pesquisas acabou por embaralhar ainda mais o já embaraçado novelo partidário brasileiro. O maior nó é o verdadeiro “plot twist” que pode fazer com que os bolsonaristas depois de rodar e rodar voltem ao PSL velho de guerra.
Se acontecer, será um recasamento de conveniência, sem amor algum envolvido e com ainda mais desconfiança que da primeira união.
A momentânea reação de Jair Bolsonaro nas pesquisas acabou por embaralhar ainda mais o já embaraçado novelo partidário brasileiro. O maior nó é o verdadeiro “plot twist” que pode fazer com que os bolsonaristas depois de rodar e rodar voltem ao PSL velho de guerra.
Se acontecer, será um recasamento de conveniência, sem amor algum envolvido e com ainda mais desconfiança que da primeira união.
Pragmático às raias da tosquice, Bolsonaro admitiu na última
live nas suas redes sociais que o tal Aliança pelo Brasil encalhou, depois de
tanta pompa e circunstância em seu anúncio.
Depois de desovar filhos e aliados em legendas aleatórias,
como o Republicano de Marcelo Crivella, e flertar com o PTB do condenado e
ex-preso Roberto Jefferson, o capitão admite voltar à velha casa alugada.
Não são os belos olhos de Luciano Bivar ou a tendência do
presidente à conciliação que inspiram esse movimento, mas o cofre do Fundo
Partidário, algo que Bolsonaro nunca engoliu que, tendo sido conquistado às
suas custas, ficasse para trás no divórcio.
O barata voa com a súbita ascensão da popularidade de
Bolsonaro também acirrou os ânimos no Partido Novo. Assim como entre os
“farialimers” (com licença, Raul Juste Lores), na sigla, há quem alimente a
esperança de que o ministro Paulo Guedes dispute com João Amoêdo a candidatura
novística em 2022.
O plano é incentivado pelo empresário Salim Mattar, que
deixou o Ministério da Economia, mas segue próximo a Guedes, tem ascendência
sobre uma ala da bancada federal da sigla e não esconde o desejo de jogá-la de
vez na base aliada.
Isso enquanto o fundador do partido defende que candidatos a
prefeito e atuais detentores de mandato do Novo se afastem o quanto antes do
governo iliberal de Bolsonaro.
A disputa tende a esquentar à medida que a campanha
municipal for para a rua e ficar evidente que muitos candidatos do Novo são, na
verdade, bolsominions que trocaram o amarelo pelo laranja, que está mais na
moda.
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