É a pressa do calendário político que move o acordo do
presidente Jair Bolsonaro com lideranças partidárias do bloco do Centrão para
enviar ao Congresso uma Medida Provisória (MP) que abre um crédito
extraordinário de cerca de R$ 5 bilhões para custear investimentos em
infraestrutura e ações indicadas por parlamentares.
Esse tipo de crédito é uma das poucas exceções possíveis
para que despesas fiquem livres de qualquer limitação imposta pelo teto de
gastos e pode ser feito por meio de MP. É com esses créditos que o governo tem
liberado recursos para o enfrentamento da covid-19 no chamado orçamento de
guerra.
Em ano eleitoral, os parlamentares querem mesmo é ver
recursos na mão e bem rápido. Simples assim. A pandemia do coronavírus é só o
pano de fundo. Não há uma política coordenada, bem desenhada e planejada de
investimentos públicos para estimular a retomada econômica, como defendem muito
economistas de dentro e fora do governo.
Como o Palácio do Planalto argumenta que a quantia de R$ 5
bilhões não é tanto dinheiro assim e que há espaço fiscal, Bolsonaro bem que
podia tentar um remanejamento de recursos do Orçamento via crédito suplementar.
O problema técnico e político do crédito suplementar é que
ele tem que ficar dentro do teto e só pode ser aberto se cancelar outra dotação
orçamentária. Pelo valor proposto, o mais provável é que a liberação dos
recursos exigisse, ao final, projeto de lei e não a edição de um decreto.
Levaria, portanto, mais tempo, o que os políticos não têm.
Bolsonaro teria que mandar o projeto pelo Congresso e, dessa
forma, enfrentar mais negociações por causa do controle da pauta de votação.
Mas há urgência para gastar tudo até dezembro, e não deixar restos a pagar para
2021, que são aquelas despesas transferidas de um ano para o outro.
O comando do Ministério da Economia não ofereceu
resistências à MP e não viu problemas jurídicos no uso de créditos
extraordinários embasado nas regras do orçamento de guerra. Pelo contrário,
divulgou nota apontando sua posição de que a medida está em consonância com a
legislação.
Segundo o ministério, o orçamento de guerra permite a
ampliação de gasto sem 2020 desde que respeitado o “princípio exclusivo de
enfrentar a calamidade e suas consequências econômicas e sociais”. Técnicos
especialistas em Orçamento questionam, no entanto, o fato de a Constituição
restringir o uso a “despesas imprevisíveis e urgentes”.
Aliás, é bom lembrar que o acordo da MP foi acertado no
encontro “histórico” desta semana entre Bolsonaro, ministros, lideranças
políticas e os presidentes do Senado e da Câmara. Na reunião, o ministro Paulo
Guedes conseguiu o apoio que queria depois da “debandada” da equipe que
fragilizou a sua agenda liberal. No encontro, todos reafirmaram o compromisso
com o teto e a tal responsabilidade fiscal.
Mas só que não.
O que está em curso é uma negociação para gastar mais em 2021. Os lados estão fazendo os seus acertos e a forma de fazê-lo. Para muitos observadores da cena política em Brasília, está cada vez mais claro que essa mudança acontecerá mais cedo (2020) ou mais tarde (2021), com ou sem Paulo Guedes.
O que está em curso é uma negociação para gastar mais em 2021. Os lados estão fazendo os seus acertos e a forma de fazê-lo. Para muitos observadores da cena política em Brasília, está cada vez mais claro que essa mudança acontecerá mais cedo (2020) ou mais tarde (2021), com ou sem Paulo Guedes.
Será com ou sem dor. Sem dor: mudando o teto logo por meio
de tampão. Com dor: como tenta o ministro da Economia, acionando gatilhos de
medidas automáticas de corte de despesas, como proibição de criação de despesas
obrigatórias, eliminação de renúncias e gastos com pessoal e programas com o
abono salarial.
Os gatilhos são tão duros e demandará muita articulação
política para aprová-los. Os líderes vão querer enfrentar esse desgaste ou
farão corpo mole? Nada mais urgente do que construir essa saída e com
planejamento até para não faltar dinheiro para saúde e programas sociais em
2021 – esse, sim, os problemas mais urgentes.
O tamanho do ajuste de rota veremos mais à frente. Vai
depender da empolgação do presidente com o aumento da popularidade e dos
compromissos que estão acertados com os parlamentares do Centrão.
Bolsonaro quer chegar vivo em 2022 e com gás para sair
vencedor nas eleições. Depois é que são elas.
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