Ainda na eleição, Jair Bolsonaro tentou abafar os primeiros
rumores de que Paulo Guedes deixaria sua equipe. O economista era alvo dentro
do comitê de campanha por sugerir a criação de um imposto nos moldes da velha
CPMF. “O Paulo segue firme”, afiançou o candidato.
Apesar do aval público, o presidente manteve o conselheiro
sob risco permanente. Bolsonaro precisou defender o auxiliar outras seis vezes.
Negou sua demissão e simulou apoio a sua agenda. Em quase todos os casos,
porém, forçou o ministro a recuar e preservou os ruídos da relação.
Quando o fantasma do novo imposto incomodou a campanha de
Bolsonaro, após o primeiro turno, o candidato quis proteger o economista. Disse
que a ideia da CPMF era “um ato falho” e que não criaria novos tributos. Guedes
ainda insiste, mas o chefe nunca abraçou o plano.
Na largada do mandato, os atritos da reforma administrativa
levaram o presidente a repetir o script. Em outubro, Bolsonaro defendeu a pauta
do ministro e disse que havia “100%” de confiança entre os dois.
Dois meses depois, disse estar “muito feliz com esse casamento
hétero com o Paulo Guedes”, mas mandou abrandar a proposta que mudaria as
regras do funcionalismo. “A equipe econômica entendeu”, comunicou. O texto foi
para a gaveta.
No Carnaval seguinte, Guedes voltou a ser um problema. O
ministro chamou servidores de parasitas e disse que, se o dólar estivesse mais
barato, as empregadas domésticas iriam à Disney. “Ele vai ficar conosco até o
último dia”, reagiu o presidente.
Bolsonaro refez o teatro em abril, na disputa entre o
economista e os ministros que pediam mais dinheiro para obras. “O homem que
decide a economia no Brasil é um só”, sentenciou. O presidente, logo depois, se
juntou ao coro dos gastadores.
Sob pressão para abrir o cofre, Guedes ganhou sua sétima
vida na segunda (17). Desta vez, Bolsonaro disse que a saída do auxiliar “nunca
foi cogitada”. Com tantas garantias de permanência, ele se tornou o ministro
mais frágil da Esplanada.
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