A Petrobras valia ontem a preço de mercado R$ 300 bilhões. O
auxílio emergencial custa o dobro disso em um ano. Se fosse mantido por doze
meses, seriam R$ 600 bilhões. Vinte vezes mais do que o Bolsa Família, que no
mesmo período consome R$ 30 bilhões. O auxílio que tem tal peso nas contas é o
que encanta o presidente Bolsonaro. O ministro Paulo Guedes oferece um prêmio
de consolação: o Renda Brasil. Ele será insuficiente para manter a sensação
dada a quem recebeu o auxílio nesta pandemia.
Esse é o centro de um dos dilemas de Paulo Guedes. O auxílio
reduziu o peso da recessão e aumentou a popularidade do presidente. Contudo,
tem um custo impagável. O outro dilema são os investimentos pedidos pelos
militares e as obras defendidas pelos ministros setoriais. Separadas podem ter
boas justificativas, todas juntas serão a pá de cal no programa que o ministro
vendeu ao mercado como aquele que seria aplicado durante o governo Bolsonaro.
Resta pouca coisa do programa original. Não foi feita a privatização, a reforma
administrativa mofa na gaveta presidencial, a capitalização foi derrubada pelo
Congresso, a abertura comercial virou um acordo com a União Europeia de incerta
homologação. Se descarrilhar o gasto, nada restará.
Agosto é mês em que todo ministro da economia fica sob
pressão porque fecha-se o orçamento e cada área quer evitar cortes. Desta vez é
pior porque a situação é muito mais complicada. A pandemia elevou
espantosamente os desafios fiscais do país. Luta-se pelo gasto imediato e pela
despesa do ano que vem.
Renda Brasil: Mais de 20 milhões de famílias com benefícios
de R$ 300
Há uma velha lei da selva brasiliense. Toda vez que o presidente tem que dizer que alguém está prestigiado é porque este alguém está sob ataque. Quem está forte não precisa ser fortalecido. No caso de Paulo Guedes, ele sentiu necessidade de reforçar a si mesmo e disse que Bolsonaro tem confiança nele e ele tem confiança no presidente.
Há uma velha lei da selva brasiliense. Toda vez que o presidente tem que dizer que alguém está prestigiado é porque este alguém está sob ataque. Quem está forte não precisa ser fortalecido. No caso de Paulo Guedes, ele sentiu necessidade de reforçar a si mesmo e disse que Bolsonaro tem confiança nele e ele tem confiança no presidente.
O maior ataque ao ministro vem do próprio presidente. Guedes
pode vencer as quedas de braço parciais contra os ministros Rogério Marinho,
Tarcísio de Freitas ou até o general Braga Netto. Mas não será possível vencer
um presidente em campanha eleitoral, enamorado de si mesmo, e com ouvidos
abertos aos que prometem que todo aquele eleitorado será dele se ele continuar
gastando, dando auxílios e inaugurando obras, mesmo as que não foram feitas por
ele.
Bolsonaro não sabe governar. Sua agenda se resume à defesa
dos clubes de tiro, onde seus filhos gostam de brincar, ao desregramento do
trânsito, às vantagens corporativas de militares e policiais. Presidentes assim
em épocas difíceis costumam criar falsos adversários, mentir sobre a realidade
e entrar em campanha. Bolsonaro usou as três técnicas e com elas tenta encobrir
sua incapacidade administrativa.
Entre Bolsonaro e seu objetivo há o tempo e os limites dos
cofres públicos. Mesmo que o ministro da Economia aceite ceder, ele sabe que
não pode ser por muito tempo. O Renda Brasil não terá o mesmo valor, nem a
mesma amplitude do auxílio. Vai decepcionar muita gente. Para ter recursos
precisará acabar com benefícios que tem defensores. O abono salarial, recebido
por trabalhadores que ganham até dois pisos salariais, o seguro defeso, dado a
pescadores em época de desova dos peixes, e a farmácia popular, que reduz o
preço dos remédios para determinada faixa da população. Para acabar com esses
programas será preciso travar batalhas difíceis.
Paulo Guedes é um defensor dos cofres públicos incomum. Ele
cede mais facilmente aos argumentos do presidente. Bolsonaro pode dizer a ele
que em 2023, depois de se reeleger, ele então privatizará, diminuirá o tamanho
do Estado, abrirá a economia, mas que agora não dá porque precisa lutar contra
os inimigos da esquerda que atacam seu governo. O ministro é inteligente, mas
cairá nesta conversa facilmente.
Entretanto, chegará o dia em que o mercado verá que o rei
está nu. Bastará olhar os números. A despesa primária este ano está indo para
R$ 1,98 trilhão, o que é 27,6% do PIB. No ano que vem, terá que ser reduzida
para 19,6% do PIB, em 2022, para 19,2%. Isso acontecerá por força do teto de
gastos. Parte do governo quer que essa queda seja mais lenta. Mas a dívida está
indo para 98% do PIB. E os juros futuros já ligaram o pisca-alerta.
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