Não acreditem em Jair Bolsonaro. Nas 72 horas que sucederam
a revoada do ninho liberal de Paulo Guedes (Economia), o presidente fez, por
duas vezes, juras de amor ao teto de gastos —regra que limita o aumento das
despesas públicas. Entre uma e outra declarações, deu uma fraquejada: “A ideia
de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema?”.
Empunhar a bandeira do liberalismo, do Estado mínimo, das
privatizações e da austeridade fiscal sempre foi ato mimetizante de Bolsonaro
frente a Guedes para seduzir os donos do PIB. Nunca convenceu, quanto mais
agora, que começa a colher os frutos da popularidade depois de R$ 500 bilhões
despejados em ações contra a nefasta pandemia. Não há de ser o teto o óbice a
seus planos de reeleição, por certo.
Não acreditem em Paulo Guedes. O ministro anuncia a
debandada de auxiliares e a investida de colegas fura-teto como forma de
pressionar o Palácio do Planalto a renovar os votos pela responsabilidade
fiscal e evitar a “zona sombria” do impeachment. Ora, o mesmo Paulo Guedes
tentou, em vão, recente operação Mandrake para destinar recursos do Fundeb para
o Renda Brasil (novo Bolsa Família) e, assim, burlar o teto.
O mesmo Guedes trabalha para abrir um crédito extraordinário
de R$ 5 bilhões para financiar obras de infraestrutura e adoçar a boca dos
fura-teto. A manobra livra o governo das amarras impostas pelo limite de
gastos. Um pecadilho contábil.
Nem revoada, nem teto mal-escorado, nem reforma do Estado
adiada abalam a fé na gestão bolsonarista nutrida pelo mercado, que entoa um
“me engana, que eu gosto” e segue a operar lucros. Com tibieza, empresários
reagem, e o baile continua.
O eleitorado, remediado pelo auxílio emergencial e pelo
crédito barato bancado pela viúva, nada vê: seja escândalo das rachadinhas,
seja 100 mil mortes, seja enlace ao caciquismo político. Garante a Bolsonaro
avanço expressivo em sua aprovação, segundo o Datafolha. Ao melhor estilo
“perdoa-me por me traíres”.
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