Nossa esperança de controle da pandemia de Covid-19 agora
recai sobre a vacina. O novo mantra é que devemos aguentar por mais alguns
meses sob a versão degenerada de normalidade que conseguimos criar até que o
imunizante esteja disponível e todos possamos regressar à normalidade normal.
Esse parece ser mesmo o melhor roteiro. Mas será que a
chegada da vacina representará o fim de nossos problemas? Infelizmente, não é
tão simples. E nem estou falando da dificuldade logística de produzir bilhões
de doses de um imunizante, distribuí-las e aplicá-las em populações que talvez
resistam à ideia.
Muito do efeito que a vacinação terá sobre a pandemia
depende das características do produto. O fator mais sensível é a eficácia. Não
será nenhuma surpresa se uma vacina desenvolvida às pressas não se revelar
muito boa. Suponhamos que ela tenha uma eficácia de 40%.
Já seria uma inestimável ajuda na contenção da epidemia, mas
não é o bastante para que cada indivíduo vacinado se sinta seguro para retomar
plenamente as atividades. A crise poderia não acabar tão cedo para setores como
os de restaurantes, entretenimento e turismo.
Às vezes, o fármaco é melhor para prevenir formas agravadas
da doença do que o contágio propriamente dito. Seria ótimo para reduzir a
mortandade da Covid-19, mas não nos livraria de lidar com surtos da doença. A
proteção de uma vacina também pode variar conforme o grupo a que é aplicada. Há
imunizantes que não funcionam tão bem para idosos, outros que falham mais com
obesos etc.
O lado bom da história é que nunca antes cientistas,
empresas e governos se esforçaram tanto para desenvolver uma vacina. Há seis
delas na fase 3 de testes e várias outras a caminho. Não é inverossímil que, no
próximo ano, tenhamos uma dezena de produtos utilizáveis, o que ampliaria
bastante a chance de oferecer alguma proteção a indivíduos com todos os perfis
de risco.
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