Para 43% dos eleitores, o presidente Jair Bolsonaro teve
desempenho ruim ou péssimo na gestão da pandemia de Covid-19, segundo a mais
recente pesquisa Datafolha. Entretanto nem tal juízo nem as atitudes e palavras
do presidente durante a calamidade levam a maioria dos brasileiros a atribuir a
ele a responsabilidade pela tragédia.
Conforme a sondagem, 47%
consideram que o mandatário não tem culpa nenhuma pelo espalhamento da
doença, que já havia resultado em quase 104 mil mortes no período das
entrevistas. Outros 41% avaliam que ele é um dos culpados, mas não o principal;
apenas 11% o apontam como o maior culpado.
A opinião dos brasileiros quanto à conduta do presidente na
crise melhorou desde junho, quando a reprovação atingia 49%. Parece plausível
que a reabertura de atividades e a relativa melhora da economia —que chegou ao
fundo do poço em abril— tenham influenciado o humor nacional. Ainda assim, cabe
ponderar os números.
A benevolência com as autoridades se estende aos
governadores, que para 55% não são responsáveis pelo avanço do novo
coronavírus.
Apesar disso, a maior parcela (49%) entende que o país não
fez o necessário para evitar a escalada de mortes, enquanto só 22% adotam uma
posição mais fatalista segundo a qual nada poderia ser feito para conter a
Covid-19. Dar nome aos bois que não fizeram o necessário, porém, parece mais
difícil.
Note-se também que a avaliação positiva de Bolsonaro é muito
mais comum entre aqueles que menos adotam o distanciamento social, menos medo
têm da doença e menos propensos estão a se vacinar.
Ainda mais relevantes, a confiança na sua palavra e a boa
opinião sobre seu governo estão muito associadas à inclinação de não
responsabilizá-lo. Entre os que sempre confiam no que diz o presidente, 86%
consideram que ele não tem culpa nenhuma pelas mortes. O juízo, portanto,
aparenta ser enviesado por inclinações políticas.
Não será difícil apontar objetivamente erros e omissões do
governo federal no combate à pandemia, além de demonstrações pessoais da
incúria de Bolsonaro.
Sem estratégia nacional definida, o mandatário lavou as mãos
e se disse tolhido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Trata-se de uma
inverdade: a corte tão somente reconheceu a autonomia de estados e municípios
na adoção de medidas sanitárias.
Não satisfeito, Bolsonaro demitiu dois ministros da Saúde e
mantém um interino, sabotou os esforços de governadores e prefeitos, disseminou
mentiras e desinformação sobre a doença e seu tratamento.
Ele próprio infectado, recuperou-se —felizmente— da doença e
sobrevive ao impacto político da mortandade, cujos números ainda não mostram
desaceleração.
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