Depois de quatro meses, Jair Bolsonaro se lembrou de nomear
um ministro da Saúde. O escolhido foi o general Eduardo Pazuello, que já
ocupava a cadeira como interino. Quando ele assumiu, em maio, o país contava 13
mil mortos pela Covid. Ontem o número ultrapassava os 133 mil. Isso significa
que nove entre dez vítimas morreram na gestão do militar.
Pazuello é o terceiro titular da Saúde desde o início da
pandemia. Os dois anteriores caíram por resistir à pressão de Bolsonaro para
distribuir remédio sem eficácia comprovada. O general chegou com uma vantagem:
como não é médico, não precisa rasgar o diploma para fazer as vontades do
chefe.
Na primeira semana no cargo, ele mostrou que sabe obedecer e
receitou o uso da cloroquina. Em seguida, dedicou-se à tarefa de transformar o
ministério num quartel. Demitiu técnicos em saúde para abrir espaço a coronéis,
majores e capitães.
O general foi apresentado como um especialista em logística.
Mesmo assim, não conseguiu evitar a falta de suprimentos nos hospitais. Sua
gestão só mostrou eficiência para esconder informações. Os veículos de
comunicação precisaram montar um consórcio para manter o público informado
sobre a evolução da doença.
A posse de Pazuello foi coerente com sua obra até aqui. Em
tom festivo, o general afirmou que o Brasil tem “um dos maiores quantitativos
de pessoas recuperadas no mundo”. Faltou dizer que o país aparece em segundo
lugar no ranking de mortes.
O governo ignorou as recomendações sanitárias e voltou a
aglomerar convidados no Planalto. Bolsonaro aproveitou para atacar a imprensa e
fazer propaganda da cloroquina. Na contramão dos epidemiologistas, ele afirmou
que o país não deveria ter fechado as escolas na pandemia. Depois disse que 30%
das mortes teriam sido evitadas com o falso remédio milagroso.
Segundo o Capitão Corona, os governadores que decretaram medidas de distanciamento foram “tomados pelo pânico” e “impulsionados pela mídia catastrófica”. Ele, ao contrário, teria sido ousado e corajoso. “Não me acovardei, não me omiti”, elogiou-se.
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