Nos meses de quarentena, o Brasil conseguiu combinar duas
catástrofes: uma das piores conduções mundiais do combate à pandemia, que
resultou em massacre evitável de brasileiros, e o descontrole da epidemia de
violência, que matou mais cidadãos e policiais no primeiro semestre deste ano
que no mesmo período de 2019.
Pesquisa do Monitor da Violência e do site G1 aponta que,
mesmo com o isolamento social, 3.148 pessoas foram mortas por policiais em
2020, 7% a mais que em 2019. E 103 policiais foram assassinados contra 83,
aumento de 24%. Esses números estão em linha com o crescimento de assassinatos
em geral: 6% a mais neste ano.
Como explicar essa doença social? O pesquisador Adilson Paes
de Souza acaba de defender na USP a tese de doutorado “O policial que mata: um
estudo sobre a letalidade praticada por policiais militares do estado de São
Paulo”. Para o estudioso, “a base do sistema de segurança pública no Brasil foi
gestada na ditadura e a Constituição de 1988 não mudou isso. As PMs foram
organizadas nos marcos da Doutrina de Segurança Nacional, que tem como meta a eliminação
do inimigo interno para acabar com o comunismo”.
Há outras razões para a enfermidade. “A morte violenta
tornou-se uma commodity. Ganha-se muito dinheiro com a insegurança. Fabricantes
de armas e munições, empresas que vendem sistemas de segurança, rastreamento,
blindagem de carro, funerárias. A lógica é: o Estado não provê segurança, cada
um se arma e se defende como pode e alguns enriquecem”, avalia.
Bolsonaro, um devoto da violência, age dentro dessa lógica.
Tem facilitado o acesso às armas de fogo e dificultado seu rastreamento.
“Quanto mais armas no sistema legal, mais fácil armar milícias no campo e nas
cidades. São as milícias que poderão, eventualmente, dar suporte a uma ruptura
institucional”, afirma Souza. É preciso admitir a barbárie para salvar a
democracia.
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