O Palácio do Planalto tenta ganhar tempo para reagrupar sua
base parlamentar no Congresso e evitar a derrubada do veto do presidente Jair
Bolsonaro à prorrogação da desoneração das folhas de pagamentos de empresas de
17 setores da economia, até o final de 2021. É mais ou menos como convidar os
perus para a festa de Natal, porque não é somente o presidente da República que
está de olho na própria reeleição, os parlamentares federais estão com um olho
nas eleições municipais e outro na preservação dos respectivos mandatos em
2022. Por essa razão, a apreciação do veto foi adiada para a próxima semana,
numa articulação do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Os setores beneficiados pelas desonerações são os mais
atingidos pela pandemia, entre os quais os de call center, tecnologia da
informação, transporte, construção civil, têxtil e comunicação, que empregam em
torno de 6 milhões de trabalhadores com carteira assinada. O objetivo das
desonerações foi preservar os empregos do setor. Desde a aprovação da
prorrogação, o governo manobra para evitar a votação do veto, que é muito
difícil de ser mantido. Mais do que, por exemplo, o perdão das dívidas das igrejas
evangélicas, que Bolsonaro vetou no domingo, pedindo ao mesmo tempo que seus
aliados derrubassem o veto. A ambiguidade do presidente da República nessa
matéria vale também para as desonerações, porque Bolsonaro já não consegue
esconder as dificuldades que tem para contrariar seus eleitores em matéria de
responsabilidade fiscal.
O veto só não foi derrubado ainda porque o presidente do
Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tem colaborado com o Palácio do Planalto,
evitando pautar a matéria. Alcolumbre é candidato à reeleição no cargo, o que é
vedado pela Constituição, mas trabalha para emendá-la. A reeleição não é
permitida na mesma legislatura. Outros presidentes da Casa também tiveram a
mesma ambição, sem sucesso, até mesmo o ex-presidente José Sarney, que foi o
presidente do Senado o mais poderoso desde a redemocratização. No momento, o
grande pretexto para o adiamento são as convenções eleitorais nos municípios,
que de fato estão mobilizando senadores e deputados.
Impostos
A apreciação de vetos é prerrogativa da sessão conjunta do Senado e da
Câmara. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes, tenta rearticular a
base para manter o veto, com o discurso de que é possível “um acordo que
contemple aquilo que os vários segmentos querem: que o país tenha uma
recuperação econômica segura e que a desoneração fique absolutamente resolvida
porque isso mantém empregos”. No fundo, o governo está meio desesperado diante
da ameaça de derrubada dos vetos, por causa do cobertor orçamentário curto. A
equipe econômica precisa de caixa para bancar o Renda Brasil, programa de
transferência de renda anunciado por Bolsonaro, no valor de R$ 300, para
substituir o Bolsa Família, o legado social do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, que chega ao máximo de R$ 205 quando beneficia cinco pessoas na mesma
família.
Por enquanto, não há dinheiro para viabilizar o projeto, que
é a menina dos olhos de Bolsonaro para sua reeleição. Como o governo se recusa
a cortar seus gastos na escala necessária — a reforma administrativa proposta
pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tem pouco efeito de curto prazo —, a
equipe econômica recorre a subterfúgios do tipo a volta da CPMF, o novo imposto
sobre operações eletrônicas proposto por Guedes, ou a recorrente tentativa de
transferir renda dos pobres para os mais pobres ainda, para usar as palavras de
Bolsonaro, como o congelamento dos reajustes das aposentadoria por dois anos,
intenção anunciada ontem: todos os velhinhos pagariam a conta da reeleição de
Bolsonaro antecipadamente. A proposta é marota porque permitiria o aumento em
setembro de 2022, ou seja, às vésperas das eleições.
São duas propostas com difícil passagem pelo Congresso,
quando nada porque o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se finge de morto,
enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia(DEM-RJ), mais uma vez bate de
frente com o ministro Paulo Guedes e anuncia que não apoia a criação do
imposto: “Não dá para criar novos impostos a cada crise, a gente tem de olhar e
voltar ao que estávamos discutindo”, referindo-se ao equilíbrio fiscal. “Pode
ser mais fácil abrir um espaço fiscal no orçamento para aumentar o investimento
púbico, mas isso é um ciclo vicioso”, completou. Segundo Maia, o país não foi
capaz de resolver os problemas da economia quando criou novos impostos. Seria
melhor debater “as reformas que melhorem a qualidade do gasto público.”
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