Mais um escândalo de rachadinhas está sob a investigação do
Ministério Público do Rio de Janeiro (MP/RJ). O acusado da vez é o vereador
Carlos Bolsonaro (Republicanos). A prática é conhecida na família do presidente
e o esquema movimentou, segundo a investigação, R$ 7 milhões. O crime atribuído
ao vereador é o de peculato, quando um servidor se apropria indevidamente de
recursos públicos em benefício próprio. Vereador desde 2001, Carluxo, como é
conhecido, teria utilizado parte dos salários de seus assessores fantasmas para
obter vantagens. A prática, conhecida como rachadinha, acontece quando o
político retém uma parte ou todo o salário dos funcionários. Também é comum a
contratação de parentes que não prestam qualquer tipo de serviço.
Edir Barbosa Goes, funcionário responsável por entregar
panfletos no gabinete de Carlos Bolsonaro, por exemplo, recebia um salário de
R$ 17 mil mensais e não soube explicar exatamente qual era a sua rotina, nem
mostrou qualquer exemplar do material que dizia entregar. Mesmo que isso fosse
verdade, o MP-RJ considerou estranho um salário tão alto para um funcionário
entregar panfletos. A distorção é clara. Apenas Goes custou cerca de R$ 1,5
milhão aos cofres da Câmara Municipal carioca. Outro comissionado do gabinete
do vereador, Guilherme Hudson, também não foi capaz de justificar um trabalho
proporcional à sua função na Câmara. Hudson é chefe de gabinete de Carlos
Bolsonaro. É o posto mais alto dentro da estrutura parlamentar da Casa. Ele é
primo de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.
Ana também foi chefe de gabinete do ex-enteado e é investigada no processo, sob
a acusação de ter sido funcionária fantasma de Carluxo. As apurações mostram
que ela e os outros assessores sacavam entre 80% e 90% dos salários todos os
meses, cujo destino está sendo investigado pelo MP. A suspeita é que esse
montante seria devolvido ao vereador. Carlos manteve entre 2007 e 2009 um cofre
no Banco do Brasil e não conseguiu demonstrar aos investigadores o que guardava
no local. Ele nunca declarou o que constava nesse cofre. Os promotores
suspeitam que era usado para guardar dinheiro vivo, joias e documentos.
Como se sabe, em torno da família Bolsonaro sempre houve
negócios com dinheiro em espécie. A ex-mulher do presidente, Ana Cristina,
inclusive, comprou 14 imóveis entre 1998 e 2008, enquanto estava casada com
ele, parcialmente com dinheiro vivo. Na separação do casal, os imóveis estavam
avaliados em R$ 3 milhões. Outra ex-mulher do presidente e mãe do Carluxo,
Rogéria Nantes Bolsonaro, pagou em dinheiro vivo R$ 95 mil, em 1996, por um
apartamento na zona norte do Rio de Janeiro. Na época, ela era casada com
Bolsonaro. Hoje, o imóvel está avaliado em mais de R$ 600 mil. A atual mulher
de presidente, Michele Bolsonaro, recebeu R$ 89 mil em depósitos feitos pelo
ex-PM Fabrício Queiroz, antigo assessor de Flávio Bolsonaro. É um tema tão
sensível que irrita o presidente ao ser questionado pelos jornalistas, como se
viu recentemente.
Com a mesma estratégia das mulheres de Bolsonaro, outro
irmão de Carlos, o senador Flávio (Republicanos), é alvo de investigações sobre
rachadinhas e outros negócios enrolados. Além de uma loja de chocolates e de
vários imóveis comprados com dinheiro vivo, o senador é investigado pelo fato
de seu ex-assessor Fabrício Queiroz ter movimentado R$ 1,2 milhão e que ele
seria destinatário de parte desses valores. O caso é similar ao que é apurado
em relação ao irmão Carlos. Já outro irmão do vereador, o deputado federal
Eduardo (PSL), é investigado por disseminar fake news por meio do perfil falso
Bolsofeios. O deputado Julian Lemos (PSL-PB) denuncia que ele utilizou verbas
do auxílio-moradia da Câmara dos Deputados para comprar um apartamento.
Relações perigosas
Amigos do presidente também são acusados de atividades ilícitas. O pastor Everaldo foi preso pela Polícia Federal, em 28 de agosto, sob a acusação de comandar um esquema de corrupção na administração do governador afastado Wilson Witzel. O pastor foi responsável pelo batismo do presidente Jair Bolsonaro no Rio Jordão, em Israel. Ele comandava negócios fraudulentos na Secretaria de Saúde. Amigos do clã Bolsonaro menos influentes na política também frequentam os noticiários da pior forma possível. Fabrício Queiroz ainda não explicou a razão dos depósitos para a primeira-dama. Ele é o principal envolvido nas rachadinhas que favoreceram Flávio. Há ainda outras ligações perigosas com o chefe de milícias Adriano Nóbrega e com os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira, apontados como participantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Adriano foi até condecorado por Flávio, a pedido de Bolsonaro, em 2005. Foragido, ele foi morto em ação policial em fevereiro. Ronnie Lessa é morador do mesmo condomínio de Bolsonaro. Ronnie e Élcio estão presos. Os negócios da família sempre foram suspeitos e a chegada ao poder apenas colocou luz em relações altamente nebulosas.
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