Na semana passada, Jair Bolsonaro aproveitou o feriado da
Independência para fazer mais um pronunciamento na TV. “Naquele histórico 7 de
setembro de 1822, às margens do Ipiranga, o Brasil dizia ao mundo que nunca
mais aceitaria ser submisso a qualquer outra nação”, disse. Dom Pedro guardaria
a espada se soubesse o que fariam com seu brado retumbante.
Desde a vitória do capitão, o Brasil diz ao mundo que aceita
ser submisso à Casa Branca. Outros governos já haviam se ajoelhado diante dos
EUA, mas nem a ditadura militar foi tão servil nas relações com o país.
Para agradar Donald Trump, Bolsonaro tem jogado no lixo
décadas de política externa independente. Em vez de defender o interesse nacional,
a diplomacia brasileira passou a defender o interesse de Washington. A
vassalagem acaba de se repetir na disputa pelo comando do Banco Interamericano
de Desenvolvimento.
Fundado em 1959, o BID sempre foi presidido por um
latinoamericano. Um acordo entre os países reservava a vice-presidência aos
EUA. Desta vez, Trump resolveu ignorar a regra e indicou um ex-assessor para
chefiar o banco. O Brasil já havia lançado candidato, mas voltou atrás e traiu
os vizinhos para apoiar a manobra.
Em plena Semana da Pátria, o Itamaraty festejou a eleição do
americano Mauricio Claver-Carone. Mais um gesto de submissão a Trump, que já
debochou dos esforços de Bolsonaro para imitá-lo.
Além de humilhar a diplomacia brasileira, a subserviência
demonstra falta de visão estratégica. O republicano aparece em desvantagem nas
pesquisas para a eleição de novembro. Se o democrata Joe Biden chegar lá, seu
partido deve incentivá-lo a retaliar o capitão.
No sábado, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que
a vitória de Clever-Carone honrou “valores comuns e fundamentais às Américas”.
A nota ajudará a contar a história do desmanche do Itamaraty na gestão do
bolsonarista Ernesto Araújo.
Outras páginas terão que ser escritas mais tarde. O governo
alterou a classificação de papéis para esconder instruções que aproximaram o
Brasil de teocracias islâmicas na ONU. Os telegramas ficarão em sigilo até
2025.
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