Ensinaram-nos, por dois séculos, que este era o dia da
Independência do Brasil. Independentes do quê, independentes de quem? Da
colonização de Portugal, do saque das riquezas minerais que existiam no
território brasileiro. Seria o início de uma longa caminhada, o Brasil ainda
teria que abolir a escravidão e proclamar a República e estaria, talvez, pronto
para entrar no círculo elevado das nações tidas como civilizadas, desenvolvidas
e evoluídas. Será que conseguimos? Os sinais recentes das relações internacionais
nos dizem que ainda não.
O Brasil ainda tem, após séculos de exploração, muitas
riquezas minerais. Mas continuam a ser retiradas da terra e levadas para o
exterior de todas as formas predatórias e prejudiciais à saúde, à economia, às
relações sociais, à cultura e ao patrimônio ambiental dos povos e comunidades
que formam a nação brasileira.
A floresta cai e é queimada, os rios envenenados, a terra
degradada. E quem resiste ao saque pode ser assassinado. Todos os anos, são
dezenas de mortos destacados e centenas de anônimos nas florestas e campos; nas
cidades, são dezenas de milhares de vítimas da violência que explode nas bordas
da sociedade de consumo. Tudo isso é dependência.
Há um grupo de brasileiros, aliados a empresas com origem em
outros países, que se beneficia dessa liquidação. São poucos, diante dos
milhões que lutam pela sobrevivência num mundo de dificuldades, principalmente
agora, com o grave problema da pandemia. Mas esses poucos têm o grande poder de
manter a sociedade e o Estado numa eterna dependência das benesses ilusórias
que sobram de seu domínio.
A dependência é fabricada e, infelizmente, em muitos casos,
introjetada no coração e na alma dos que recusam a condição de sujeito
político. Vejo isso no modo desleixado como tratam a economia, o trabalho, os
direitos sociais e ambientais. Desmontam o esforço de muitos anos com uma
canetada. Assim se vai mantendo as rédeas, o controle, os privilégios, a
"derrama" que já não é mais da colônia, mas de um império que foi
imperializado por dentro e de cima.
A independência é uma luta que não se encerra já. Não está
no que se alcançou, é uma atitude de autonomia em tudo que ainda venhamos a
alcançar.
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