O Capitão Corona está em busca de um novo inimigo. Depois de
menosprezar a pandemia, sabotar as medidas de distanciamento e discursar contra
o uso de máscaras, Jair Bolsonaro ensaia declarar guerra a uma vacina que ainda
não existe.
Em conversa com seguidores, o presidente disse que “ninguém
pode obrigar ninguém a tomar vacina”. Ontem o Planalto promoveu a tolice a
propaganda oficial. “O governo do Brasil preza pela liberdade dos brasileiros”,
afirmou, nas redes sociais.
A ofensiva bolsonarista afronta a ciência, a razão e as
leis. O Estatuto da Criança e do Adolescente afirma que a vacinação de menores
de 12 anos é obrigatória “nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.
E a lei que estabeleceu as medidas de combate à pandemia, sancionada pelo
capitão, prevê a “realização compulsória” de “vacinação e outras medidas
profiláticas”.
Não é a primeira vez que o governo invoca a liberdade
individual para minar recomendações sanitárias. Em maio, quando cientistas
pediam à população que ficasse em casa, o ministro Paulo Guedes disse que o
cidadão tinha o direito de “sair andando”. “É um direito dele ser infectado”,
arriscou. Agora o presidente flerta abertamente com o movimento antivacinas,
que ganha força na extrema direita internacional.
No Brasil, a pregação contra as vacinas já contribuiu para o
retorno do sarampo. O país havia se livrado da doença, mas voltou a registrar
surtos em 2018.
“Toda a comunidade científica está numa corrida para
descobrir a vacina contra a Covid. Se o movimento antivacinas atrapalhar, essa
corrida pode ficar pela metade”, alerta a vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunologia, Karina Bortoluci.
Em agosto, o Datafolha mostrou que nove entre dez
brasileiros querem se imunizar assim que possível. Mesmo assim, Bolsonaro
parece sonhar com uma nova Revolta da Vacina, desta vez com apoio do governo.
“Vivemos numa era em que as fake news se espalham
rapidamente. O governo precisa divulgar informação correta, baseada em fatos e
dados com comprovação científica”, reforça a professora da Unifesp.
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