sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O PANTANAL ESTÁ PEGANDO FOGO

 

Gabriela Prioli, Folha de S.Paulo

No Brasil de hoje, falar sobre queimadas tem soado repetitivo. Nos primeiros meses de 2020, as queimadas no Pantanal atingiram o maior número da série histórica do Programa Queimadas, do Inpe.
No Brasil de hoje, é preciso também defender o Inpe. Quem não se lembra de Ricardo Galvão, ex-diretor do instituto, exonerado por defender a integridade dos dados que desagradaram o presidente. Essa gestão não gosta de informações que contrariam os seus interesses.

O Brasil de hoje é notícia com dados do Observatório do Clima que revelam que, ao contrário do resto do mundo, onde as emissões de carbono devem cair devido às medidas de isolamento impostas pela pandemia, por aqui as emissões devem aumentar. O culpado? O desmatamento.

Mas o que tem a ver o desmatamento com o fogo? Tudo, a despeito das tentativas do Palácio do Planalto de jogar a culpa no colo das ONGs, do Leonardo DiCaprio, de causas naturais, de balões de São João, de fogueiras e de queima de lixo. Segundo a Nasa, "a maior parte dos incêndios na Amazônia brasileira desde junho ocorreu em áreas de florestas que foram recentemente desmatadas". Uma prática comum é queimar a floresta para criar lugar para o gado, para "passar a boiada", como prefere o ministro do Meio Ambiente.

Ora, o presidente já disse para Al Gore que quer explorar os recursos da Amazônia com os Estados Unidos. Al Gore pareceu não entender. Entendo Al Gore, é difícil mesmo.

E este é o governo que se diz patriota!

Onde eu cresci, patriota é quem ama e cuida da pátria. É patriota Welington Fernando Peres Silva, analista ambiental do ICMBio que morreu em agosto enquanto combatia o incêndio florestal que consumia o Parque Nacional das Emas, não quem faz pouco caso do meio ambiente depois de colocar uma criança (pobres das crianças instrumentalizadas pelo absurdo) para perguntar sobre o fogo no Pantanal.

No Brasil de hoje, os patriotas riem de um país em chamas.

Gabriela Prioli

É mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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