Bolsonaro exerce no
poder um presidencialismo de compadrio
Jair Bolsonaro ainda não tinha ameaçado fechar o STF nenhuma
vez quando tentou fazer um aceno a Luiz Fux, em julho do ano passado. “É o
futuro presidente do Supremo. Tenho que começar a namorá-lo a partir de agora”,
brincou, antes de receber o ministro no Planalto.
O presidente não demonstrou o mesmo afeto por outros
integrantes do tribunal nos meses seguintes, mas agora parece interessado em
mudar esse padrão. Durante uma cerimônia no interior da Bahia, na última
sexta-feira (11), ele reforçou o flerte. “Aos poucos, estamos nos aproximando
cada vez mais das autoridades do Judiciário”, anunciou.
Bolsonaro enxerga o exercício de seu poder sob a ótica de
uma espécie de presidencialismo de compadrio, em que esses laços se sobrepõem
ao respeito institucional. Ele certamente não é o primeiro governante a adotar
o modelo, mas transformou essa característica numa marca de suas relações
políticas.
Logo depois de mencionar os juízes no palanque baiano,
Bolsonaro emendou um elogio a seu ministro da Infraestrutura por ter conseguido
destravar obras “lá dentro do Tribunal de Contas da União”. Embora articulações
desse tipo sejam comuns, o presidente fez questão de descrever as decisões da
corte como produtos de um bom relacionamento, não de critérios técnicos.
Na política externa, o sentimento é semelhante. Bolsonaro
planeja estender por mais três meses a isenção de tarifas para a importação de
uma cota de etanol dos EUA, contrariando produtores brasileiros. Não seria o
primeiro presente do governo brasileiro a Donald Trump, por quem Bolsonaro já
se disse “cada vez mais apaixonado”.
Essa lógica vale também na ocupação de determinados cargos
públicos, em que as conexões com o presidente e sua família valem mais do que
as qualidades dos nomeados.
Bolsonaro trata o governo como uma disputa entre amigos e
inimigos. Assim, ele acredita que pode atenuar suas derrotas e deixar em
segundo plano as leis e o interesse público.
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