Antes de completar seis meses no cargo, Jair Bolsonaro divulgou um texto que dizia que o país era “ingovernável”. No ano seguinte, reclamou do Congresso e afirmou: “Realmente, eu não consigo aprovar o que eu quero lá”. Agora, avisou a seus apoiadores que “o Brasil está quebrado” e que, por isso, não tem condições de “fazer nada”.
Desde o início do mandato, Bolsonaro esculpe a figura de um governante impotente. Além de expor sua incapacidade absoluta, esse esforço cumpre uma função política. Ao criar a ilusão de que não consegue entregar benefícios para sua base por culpa de outras pessoas, o presidente trabalha para que a fidelidade de seus eleitores dependa cada vez menos de vantagens concretas.
Bolsonaro disse nesta terça (5) que não poderia oferecer um alívio na tabela do Imposto de Renda porque o país estava no buraco. Para distrair os bolsonaristas diante de um compromisso frustrado, ele mudou o foco da conversa e afirmou que a ruína econômica havia sido provocada por “esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos”.
O presidente não quis dizer que foi ele mesmo quem escolheu concorrer à Presidência sobre uma plataforma de aperto nas contas, enquanto prometia bondades para o povo. Seu governo, aliás, esteve mais próximo de apresentar a proposta de criação de uma nova CPMF do que de reduzir o Imposto de Renda.
A declaração mostra que Bolsonaro tem ao menos uma vaga ideia das limitações econômicas que enfrentará até o fim do mandato. Com isso, o presidente deve se sentir tentado a bancar suas aventuras políticas com velhos embates ideológicos.
Para preservar o apoio de seus seguidores, Bolsonaro recorre ao conhecido truque da fabricação de inimigos. O governo tenta mostrar serviço com um punhado de rodovias asfaltadas e meia dúzia de aeroportos leiloados, mas confia que os vínculos com o eleitorado permanecerão firmes nos choques com a imprensa, os políticos tradicionais, o STF e, principalmente, a esquerda.
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