Há alguns dias, uma pesquisa feita pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) apontou que Bolsonaro e Lula têm o maior potencial de votos e, se as eleições acontecessem agora, com o petista liberado para se candidatar, os dois estariam em um possível segundo turno, brigando pelo Planalto.
Mas não quero falar disso. A minha intenção é lembrar que, na semana do Dia Internacional da Mulher, a única mulher na pesquisa, Marina Silva, da Rede, tem a maior rejeição entre todos, com 59% de pessoas que dizem que jamais votariam nela.
Marina não é acusada de ter se beneficiado pela corrupção de oito anos de governo, não tem nenhuma condenação por tríplex ou sítio, não foi responsável pela gestão trágica da saúde no país durante a pandemia, não tem que dar nenhuma explicação sobre cheques, filhos ou rachadinhas, mas é a pessoa em quem os brasileiros não votariam.
A pergunta é: por quê?
Marina Silva tem uma história como poucas na vida política do país. Foi ministra, senadora e não tem nada que a desabone. Em 2010, quando apareceu como concorrente com chances na eleição presidencial, foi investigada até a alma. Em 2014, recebeu a primeira grande campanha de fakenews pelas redes sociais, quando os adversários fizeram de tudo para que se encontrasse alguma coisa que a desconstruísse.
Mas não, ninguém encontrou nada. Marina é uma líder que pensa em questões importantes, tem erros e acertos, pode ter problemas para se comunicar em tempos de crise. Porém, é talvez das melhores lideranças que a política brasileira produziu nas últimas décadas: focada, com princípios e capacidade de ouvir antes de falar.
Contudo, o Brasil não a quer. Prefere homens que têm inúmeros questionamentos sobre honestidade e capacidade de gestão. Pode ser que alguém diga que é por falta de experiência no Executivo. Mas ela tem muito mais experiência do que tinham Lula e Bolsonaro ao assumirem a Presidência da República.
Então, por que é mais fácil aceitar as fragilidades de Lula e Bolsonaro e não de Marina? Por que passamos pano para as falhas, acusações, erros de homens e cobramos perfeição das mulheres? A resposta é simples. Tenho certeza de que você sabe muito bem qual é.
Artigo publicado originalmente no Diário de S. Paulo em 13/3/2021.
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