Quem está no foco é Eduardo Pazuello, mas o principal responsável pela presença de um general da ativa numa manifestação política é o presidente Jair Bolsonaro, que usa Pazuello para esfregar na cara das Forças Armadas quem manda e quem obedece, testar limites do novo ministro da Defesa e jogar o novo comandante do Exército contra a parede. Estrago feito, o presidente proibiu pessoalmente notas da Defesa e do Exército.
Pazuello é o novo ídolo das redes bolsonaristas e Bolsonaro, o “mito”, se referiu a ele como “meu gordinho” nos atos de motociclistas no domingo. A turma anda mal de mitos e ídolos, já que o “meu gordinho” entra para a história por cair de paraquedas no Ministério da Saúde com a “missão” de engolir sapo, deixando o caminho livre para o negacionismo do presidente e do “gabinete das trevas”.
Ao exibir um general da ativa num palanque político, o presidente da República, ex-militar processado por indisciplina, continua implodindo os princípios basilares das Forças Armadas: ordem, disciplina, hierarquia. Pelo Estatuto Militar e pelo Regimento Disciplinar do Exército, oficiais da ativa são proibidos de fazer declarações e de participar de manifestações políticas.
Os militares, muitos deles hoje escandalizados diante do que a sociedade vê e ouve, explicam a proibição com uma frase direta: quem usa farda e porta fuzil não sobe em palanque. E nenhum deles, de nenhuma das três Forças, defende a presença de Pazuello naquele trio elétrico, porque hierarquia é como taça de cristal: depois de quebrada, não tem santo que dê jeito.
O efeito pode ser em cadeia: se um general da ativa pode, por que cabos, tenentes, majores e capitães não podem? Fechar olhos, ouvidos e a hierarquia para a indisciplina de Pazuello funcionaria como deixar passar a “boiada” nas diferentes patentes das Forças Armadas. Como ficariam os comandantes imediatos? Quem controlaria seus subordinados? Por isso, Defesa e Exército não soltaram nota, mas abriram processo contra Pazuello, sujeito desde advertência até prisão.
O ato dele, apesar de inadmissível, irresponsável e de confronto, não foi inesperado e confirma a velha máxima: o que começa errado vai errado até o fim. Ou, como me disse um respeitável oficial da ativa sobre o “meu gordinho” no palanque de Bolsonaro: “Um desfecho previsível, a história de uma tragédia anunciada”.
Uma tragédia que começou com Pazuello assumindo a Saúde sem qualificação para tal e recusando-se a passar para a reserva. Tornou-se, assim, o grande teste da cúpula militar, depois da demissão inédita do ministro da Defesa e dos três comandantes e de o novo ministro, general Walter Braga Netto, marcar presença numa manifestação golpista atrás da outra. Definitivamente, não é papel do ministro da Defesa. Aliás, de nenhuma área.
Por isso, Bolsonaro e seu “gordinho” deram um golpe traiçoeiro no Exército e no novo comandante, general Paulo Sérgio. Se não fizessem nada, seriam coniventes com a implosão da disciplina e dos protocolos militares. Se fizessem o que tinham de fazer, o risco seria Paulo Sérgio passar pelo que Pazuello passou na Saúde, desautorizado e desmoralizado pelo presidente. Reagiria com “um manda, outro obedece”? A saída foi fazer, mas sem anunciar.
Como militar da ativa, o “meu gordinho” confrontou o Comando do Exército. Como ex-ministro da Saúde, agrediu a ciência numa aglomeração, e sem máscara, o que complica sua vida na CPI e na opinião pública. Além de mentir compulsivamente, ele foi cínico ao pedir desculpas por circular sem máscara num shopping de Manaus. Pazuello, porém, é coadjuvante nessa história que tanto fere os brios e a imagem do nosso Exército. O protagonista todo mundo sabe quem é.
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